Esta missionária já passou pelo Casal Ventoso e Curraleira e agora enfrenta uma pandemia
Em julho, a irmã Angela Fernandez Lopez foi distinguida com um dos Prémios Nunes Corrêa Verdades de Faria, na categoria "cuidado e carinho dispensados aos idosos desprotegidos".
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Angela Fernandez Lopez nasceu em Barcelona há 88 anos mas cresceu em Madrid. Fez o noviciado em Pamplona e vive em Portugal há sete décadas. Está ligada ao Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria e primeira missão em Lisboa começou em setembro de 1955, na Rua do Patrocínio, para dar apoio ao bairro do Casal Ventoso, juntamente com outras irmãs franciscanas.
"Era um dispensário maternoinfantil. Tínhamos consultas de pediatria, de puericultura e também vacinas", conta.
Do Casal Ventoso passou para o extinto bairro da Curraleira, em Lisboa, onde viveu em comunidade com as famílias e os idosos do bairro a partir de 1974.
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"Havia muita pobreza. Havia crianças, cujas mães as embrulhavam num papel de jornal para dormirem, porque não tinham nada que lhes dar de comer", recorda.
A passagem pela Curraleira foi marcante com efeitos até hoje. "A irmã é como um arquivo vivo das histórias da Curraleira", afirma Soraia Rebelo.
A assistente social do Centro Social e Paroquial São João Evangelista conta que a irmã recebe vários pedidos de informação por parte de estudantes que estão a fazer investigação sobre o bairro da Curraleira. "Ela lembra-se bastante e acompanhou várias fases."
Com problemas de tráfico de droga, toxicodependência e delinquência, o bairro da Curraleira passou a ser um local difícil para os mais velhos. Soraia Rebelo conta que a irmã Angela "ajudou a recuperar algumas famílias desse flagelo, começando a juntar aqui os idosos para fugirem dessa realidade".
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A assistente social refere-se ao Centro Social e Paroquial São João Evangelista, na Penha de França, onde a irmã Angela desenvolveu uma espécie de convívio para os idosos mais carenciados.
"Havia um lanche, era um convívio durante a tarde. Depois, começamos o apoio domiciliário e o pároco cedeu a cozinha da casa e uma sala para se fazerem as refeições e as pessoas poderem levar para casa", conta a irmã Angela.
Este convívio veio dar origem aos centros de dia que hoje conhecemos, como é o caso do Centro Social e Paroquial São João Evangelista, onde a irmã Angela continua a prestar apoio aos mais desfavorecidos.
Até março contava com a presença diária de cerca de cem utentes, para fazerem as refeições e participarem em atividades, mas a pandemia veio alterar a rotina.
Com o encerramento do espaço, os utentes idosos passaram a receber refeições ao domicílio seis vezes por semana. Ficam mais protegidos da Covid-19 mas surgem outros problemas.
"Estamos a assistir a um declínio da sua saúde física e emocional e é o que mais nos custa. Então, damos muito apoio em teleassistência. Ligamos todos os dias e damos o nosso carinho e fazemos a nossa companhia", explica Soraia Rebelo.
Além dos idosos, o centro também oferece apoio a famílias mais carenciadas através de produtos alimentares, tendo já assistido a um aumento de procura desde o início da pandemia. "As pessoas batem mais à nossa porta, temos tido mais pedidos de reencaminhamento e ajuda porque há uma maior necessidade em termos alimentares, as pessoas precisam de mais ajuda."
O trabalho que desenvolveu ao longo das últimas décadas valeu a Angela Fernandez Lopez um dos Prémios Nunes Corrêa Verdades de Faria, na categoria "cuidado dispensado aos idosos desprotegidos".
Foi Soraia Rebelo que fez a candidatura, fazendo uma breve história de vida com documentação e fotografias. "Este prémio parece que foi feito para ela". Para nós ela já era vencedora mesmo que isso não se realizasse. Parece que também sentiram a nossa mensagem e, de facto, ela foi a vencedora. Ficamos extremamente felizes".
O prémio, no valor de 12.500 euros, é entregue pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. A distinção é o reconhecimento público do mérito e da dedicação demonstrados no trabalho com os idosos mais carenciados em Lisboa.