Esta procissão com tochas de flores é só para homens, mas todos podem assistir
"Ressuscitou como disse, Aleluia, Aleluia, Aleluia" é o grito que vai ecoar nas ruas de S. Brás de Alportel.
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José Rodrigues ou José Bandinha, como é conhecido, e o neto David começam alguns dias antes do domingo de Páscoa a apanhar flores e a colocá-las no frio. No entanto é no sábado anterior que mais "atacam" os campos para encontrar as flores que vão engalanar as suas tochas. "É rosmaninho, papoilas, malmequeres... o tempo ainda está muito quente, só lá para sexta-feira ou sábado", explica este homem de 70 anos. As rosas albardeiras são os botões mais raros e cobiçados. Quem as descobre, guarda o segredo. "Com o meu neto já dei uma boa volta e já tenho umas quantas", diz José Rodrigues com ar malandro.
A tradição da Procissão de Aleluia ou Festa das Tochas Floridas perde-se no tempo. Ninguém consegue explicar ao certo quando começou e porque é que nesta iniciativa só podem participar homens e crianças. No entanto, ao contrário do que se possa pensar, as mulheres não se zangam nem reivindicam lugar no desfile. A festa acaba por ser para todos. "Não deixa de ser uma festa de cariz religioso, como e muitos lados, mas aqui ela adquiriu um cunho muito popular, é quase uma festa de ser sambrazense", afirma a vereadora da câmara municipal de S. Brás de Alportel. A autarquia está envolvida nos preparativos da Festa numa parceria com a Associação Cultural Sambrazense e a paróquia local.
Marlene Guerreiro lembra que esta procissão é peculiar. "É uma procissão sem andores, que tem só flores que se levam na mão numa tocha, ou se estendem no chão", explica a vereadora. Tem um cunho muito popular e " todos podem participar". O povo é que faz a festa.
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José Bandinha esteve 30 anos a trabalhar na Suíça, o mesmo tempo que ficou sem ver e participar na Festa das Tochas Floridas. "Quando cheguei em 2009 fui logo ver as ruas às cinco da manhã", relembra a rir. Só para matar saudades. "Agora gosto de colaborar", garante.
Na madrugada de domingo, dezenas de voluntários, com ajuda de muitos funcionários do município, começam a colocar nas ruas por onde vai passar a procissão, um tapete de flores com a extensão de cerca de um quilómetro. No largo que fica no centro da vila foi também colocada uma tocha gigante construída com vasos de flores.
O que atrai José Bandinha e o seu neto David, com 20 anos, é sobretudo a vivência desta festa que está agarrada ao ADN da terra." A fé está lá, mas é o convívio que se encontra mais presente", assegura David.
Esta procissão é conhecida por ter uma característica única. Pelo caminho os homens vão lançando um grito que ecoa pelas ruas." Ressuscitou como disse, Aleulia, Aleluia, Aleluia". E com tanto clamor, há quem leve uma bebida para aclarar a garganta durante o trajeto. Umas vezes água, outras, nem tanto assim. "Há quem leve medronho, sim", diz José a rir.
No final da procissão há sempre o concurso das tochas mais bonitas. José e o neto já ganharam prémios, mas garante que não é isso que os faz correr. E este Domingo de Páscoa, como vai ser? "Vou eu, o meu pai e tio, e o meu avô. São três gerações", responde David. Quando lhe perguntamos se um dia os seus filhos também engrossarão as fileiras desta festa, afirma convicto "Claro! Ajudo-os a fazer as tochas e vamos."