Estado sem pistas sobre a maioria da arte desaparecida. Quatro obras foram roubadas
Entre as 94 obras de arte contemporânea do Estado por localizar há de tudo: peças roubadas, obras extraviadas, empréstimos internacionais, cedências a gabinetes do Governo e verdadeiros mistérios.
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No relatório da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) que o Ministério da Cultura vai enviar à Procuradoria-Geral da República, e a que a TSF teve acesso, há um número que salta à vista: em 63 peças não há um único documento oficial que comprove o último local de depósito, o que significa que é praticamente impossível localizá-las.
Em muitos casos, o inventário do Estado faz apenas referência ao nome da obra, autor, data e número de coleção. Se a isto somarmos a falta de registo fotográfico de várias obras, as imprecisões das fichas de inventário originais, as rubricas ilegíveis de alguns processos e a ausência de autos de entrega percebemos que a descoberta das peças é, de facto, um caso de polícia.
Quatro roubos
Da lista constam ainda quatro desenhos e colagens sobre papel, da autoria de Graça Morais (1990), roubados do Centro Cultural de Belém em 1992. O caso foi denunciado pela antiga Direção-Geral de Ação Cultural à Polícia Judiciária e até hoje as obras continuam por localizar.
Vinte obras cedidas a um Secretário de Estado
Outro mistério é o lote de 20 obras que desapareceram em março de 2000 durante uma cedência temporária da Fundação Serralves ao Gabinete do Secretário de Estado dos Recursos Humanos e da Modernização da Saúde, Arnaldo Silva. Na sequência deste processo, intermediado pelo Instituto de Arte Contemporânea, o Estado perdeu o rasto a duas dezenas de gravuras.
No relatório de 60 páginas pode ler-se ainda que há outras sete obras desaparecidas: cinco com depósito na Direção Regional de Cultura do Norte e duas na Presidência da República.
De Graça Morais a Júlio Pomar
Da lista constam gravuras, pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, cerâmica e até têxteis.
Obras de reconhecida importância histórica e valor incalculável (já que muitas nunca foram avaliadas), assinadas por Helena Almeida, Maria Helena Vieira da Silva, Graça Morais, António Dacosta, José de Guimarães, Cristina Iglésias, Rosa Ramalho, Abel Manta, entre muitos outros.
Entre as peças por localizar estão, por exemplo, "Estudo para o Cinema Batalha" de Júlio Pomar e um busto de Oliveira Salazar, do escultor Francisco Franco.
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Na semana passada a ministra da Cultura, Graça Fonseca, fez saber que ia participa à Procuradoria-Geral da República o relatório da DGPC, para que fossem desenvolvidas as "diligências necessárias" para localizar as obras.