"Uma corrida contra o tempo." Aviões têm de se adaptar para transportar vacinas
Paulo Soares, especialista em aviação, admite em declarações à TSF que, neste momento, não existem aviões nem aeroportos preparados para distribuir as vacinas para a Covid-19.
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Numa altura em que os países se preparam para receber as primeiras doses das vacinas, que deverão estar prontas entre o final do ano e o início do próximo, não há tempo para construir aviões especiais, capazes de manter temperaturas extremamente baixas.
A hipótese é, por isso, adaptar os aviões existentes, como é o caso do russo Antonov, porque, por incrível que possa parecer, nem o maior avião de carga do mundo tem condições para fazer este tipo de transporte, que exige temperaturas que podem ultrapassar os 5 graus Celsius negativos.
"O Antonov permite a entrada de um camião TIR, mas à temperatura normal. As vacinas têm de ir para um compartimento, ou o próprio avião tem de ser reconfigurado, de maneira a que a temperatura na cabine de carga consiga estabilizar dentro dos parâmetros recomendados", explica Paulo Soares à TSF.
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O especialista em aviação adianta que uma forma de o fazer é a utilização de gases considerados perigosos. "Permitem baixar as temperaturas e conservá-las. Vai haver a necessidade de construir, dentro da aeronave de carga, uma câmara frigorífica capaz de produzir e manter temperaturas abaixo de -75ºC. Ou -20ºC. Mas, mesmo 20ºC... Não é normal transportar a 20 graus Celsius negativos, o que quer que seja", afirma este antigo piloto de linha aérea.
Paulo Soares admite ainda que, genericamente, desconhece a existência de aeroportos com arcas frigoríficas de grande dimensão, suficientes para armazenar vacinas em muito larga escala. E, no que a isso diz respeito, "em Portugal estamos metidos num sarilho". "Só conheço uma arca frigorífica com disponibilidade de espaço: é a que está no Aeroporto de Beja."
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Este especialista defende que Beja pode mesmo ser a solução para fazer chegar as vacinas ao resto do país. O Aeroporto de Beja está "num sítio isolado, sem congestionamento" e, a partir de lá, as vacinas podiam ser distribuídas "de carro ou em pequenos aviões, também eles preparados, com arcas frigoríficas pequeninas e por pouquíssimo tempo".
Paulo Soares fala de uma "corrida contra o tempo", mas acredita que há tempo para adaptar a indústria da aviação. Prova disso é a recomendação da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), feita no início da semana, para que a aviação de carga possa encontrar respostas para este novo desafio. Mas sublinha que só uma "verdadeira colaboração" entre os países vai permitir essa adaptação ao transporte e distribuição em larga escala das vacinas que o mundo tanto aguarda.
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