O Centro de Apoio Social de São Bento acolhe pessoas em situação de sem-abrigo para que possam passar o dia em ateliês ocupacionais. Além da produção artesanal, aprendem novos hábitos enquanto tentam regressar ao mercado de trabalho.
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No Centro de Apoio Social de São Bento em Lisboa refazem-se as rotinas. A pandemia veio mudar hábitos que já estavam bem estudados pelos utentes.
A terapeuta ocupacional Sara Remtula explica que sentiram necessidade de reorganizar a rotina dos utentes, uma vez que estavam já habituados a passar o dia no centro.
Agora fazem meio tempo. Foi a forma que este equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) encontrou para manter as distâncias de segurança. E é preciso entender como usam o resto do dia. "Estamos aqui a fazer essa reflexão para depois trabalhar sobre estratégias para readaptar estas rotinas", afirma.
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Enquanto se reaprende a gerir a rotina, ao lado aprende-se a cozinhar. Há ainda um outro atelier de produção artesanal onde se fabricam artigos de decoração e se aprende a trabalhar em equipa.
"Uma pessoa não faz um produto inteiro. O início do trabalho é o corte do papel e depois vai evoluindo de se fazer a pasta de papel, outra pessoa molda o boneco, outra pessoa pinta. O trabalho final será o resultado do trabalho de todos", afirma Ana Cristina Zagallo, diretora da instituição.
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O resultado dos ateliês de arte é vendido na loja do centro social - bonecos em pasta de papel, figuras em madeira, objetos de decoração, trabalhos em corda.
Todos os produtos saem das mãos dos utentes que frequentam o centro. A maior parte está em situação de sem-abrigo ou em risco de virem a viver na rua.
"Há também pessoas muito isoladas que têm necessidade de ser acolhidas num espaço onde possam estar ocupadas, onde possam ser orientadas, pessoas que precisam de uma determinada direção na vida, que se encontram um pouco perdidas e um pouco desacompanhadas e sem recursos", conta a diretora.
O objetivo dos ateliês ocupacionais do centro, com capacidade para 50 utentes, é acompanhar estas pessoas mais vulneráveis e dar-lhes uma nova vida.
"Setenta por cento da população utilizadora deste equipamento tem problemas de saúde mental, problemas de saúde físico. É um trabalho exaustivo de recomeço de adquirir rotinas, hábitos de trabalho, cumprimento de horários", explica.
É preciso readquirir os hábitos de trabalho porque muitas dos utentes são desempregados de longa duração.
Ana Cristina Zagallo, que trabalha no centro há 23 anos, admite que é difícil integrar as pessoas no mercado de trabalho mas é possível. No ano passado, 23% das cerca de 15 pessoas que saíram do centro, foram integradas no mercado de trabalho. "Não é mau se pensarmos na falta de estrutura e na falta de apoios."
Antes do mercado de trabalho vão treinando nos ateliês incluindo a gestão do salário já que recebem uma compensação monetária mensal pelo trabalho realizado no centro. "Ou seja, se faltarem injustificadamente são penalizados, o dia é descontado como se fosse um trabalho normal. Por aí, nós trabalhamos esse sentido de responsabilidade", acrescenta.
Além dos ateliês ocupacionais e da loja, o centro tem um balneário, um refeitório e um espaço de inclusão digital.