Estudo encontra elevadas quantidades de sal em refeições de hospitais portugueses
Especialistas admitem preocupação com resultados que parecem contrariar a ideia feita de que a comida nos hospitais não tem sabor.
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Um estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) encontrou elevadíssimos teores de sal em refeições hospitalares, mas também um incumprimento de outras recomendações nutricionais na comida servida aos doentes.
O trabalho foi recentemente publicado pelo INSA e tem como título "Vigilância de qualidade nutricional de refeições hospitalares entre 2017 e 2019".
Foram analisadas laboratorialmente 32 refeições, quase todas de carne ou peixe e quer numas quer noutras o sal em cada prato era mais do dobro do que é recomendado ingerir por dia.
Também nos teores de proteína e densidade energética os valores encontrados ficaram muito acima das recomendações, com os oito investigadores que assinam o estudo a referirem que "uma oferta alimentar adequada aos doentes é uma parte determinante do seu tratamento e recuperação, melhorando a sua qualidade de vida, diminuindo o tempo de recuperação e internamento e a probabilidade de desenvolver complicações ou infeções".
Mariana Santos, uma das autoras do trabalho, detalha à TSF que o objetivo não é assustar as pessoas nem dar a ideia - errada - de que a alimentação hospitalar não tem qualidade: o fundamental é perceber aquilo que se passa e compreender onde é que se pode melhorar numa comida que é dada a uma população fragilizada.
A investigadora recorda que estamos a falar de pessoas numa situação frágil e admite que os resultados "deixam algumas preocupações ao nível da saúde pública, nomeadamente no sal, pois as doenças cardiovasculares são uma das principais causas de morte da população portuguesa".
"Se as pessoas já estão em situação fragilidade e se o sal é superior ao recomendado, pode não contribuir para que a pessoa melhore tão rapidamente", detalha Mariana Santos, que admite, contudo, que muitos doentes acabam por não comer a refeição completa.
Os resultados indicam, contudo, para a existência de teores de sal nos hospitais que são muitas vezes mais do dobro daquilo que seria recomendado para um dia completo e o doente pode até não comer a refeição completa e mesmo assim ingerir mais sal do que devia.
As conclusões do estudo contrariam, aliás, uma ideia feita de que a comida nos hospitais não tem sabor.
No início de 2019, há quase dois anos, a Direção-Geral da Saúde (DGS) colocou em consulta um futuro Manual das Dietas Hospitalares, mas, até ao momento, ainda não se conhecem resultados nem o documento foi oficialmente publicado.
Pedro Graça, nutricionista e antigo responsável pelo Programa Nacional para a Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde, sublinha que a amostra deste estudo é pequena, mas compreende que este tipo de análises é caro.
No entanto, mesmo com uma amostra pequena, os resultados ao nível do sal - que são muito elevados - levantam preocupação, com o nutricionista a sublinhar a necessidade de ter cuidado "principalmente estando num hospital".
"Há uma série de patologias provocadas pelo sal, em primeiro lugar a hipertensão arterial, que é um gravíssimo problema de saúde pública, que atinge mais de 3 milhões de portugueses, e as consequências de uma hipertensão arterial continuadamente alta, como os acidentes vasculares cerebrais. Temos de dar uma atenção muito grande ao sal em todos os momentos da nossa vida", conclui Pedro Graça.