Europa abre porta a movimento violento e "possibilidade de réplica em Portugal é significativa". Solução pode passar por banir grupos de extrema-direta
Felipe Pathé Duarte admite que episódios como o ataque ao teatro A Barraca representam um desafio para as autoridades e admite que o risco de escalada é enorme
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Felipe Pathé Duarte, membro da estrutura de missão da Comissão Europeia para a prevenção da radicalização e dos extremismos violentos, condena o ataque ao teatro A Barraca e admite que episódios como os desta terça-feira são fruto de uma "tendência" europeia para movimentos violentos. Ouvido pela TSF, o também professor na Nova School of Law não afasta a possibilidade de banir grupos de extrema-direita.
“Há uma tendência europeia para a manifestação violenta”, começa por explicar Felipe Pathé Duarte, apontando responsabilidades para "determinadas perspetivas político-ideológicas, neste caso de extrema-direita".
Felipe Pathé Duarte considera que “inevitavelmente Portugal não ficará de lado” da tendência e fala num “ponto extremamente complicado para as autoridades”, até porque “e tipo de violência tem uma determinada perspetiva de atratividade, para determinados indivíduos e grupos”. “A partir do momento em que alguém abre essa porta, a possibilidade da réplica é significativa”, afirma.
Felipe Pathé Duarte insiste que “há um enquadramento político, uma determinada mundividência que está a ganhar o destaque público” e exemplifica com os Estados Unidos.
Em 2016, 2017, 2018 e 2019, durante a vigência de Donald Trump, o número de violência de extrema-direita nos Estados Unidos aumentou significativamente. Quando falo disto falo ataques antissemitas, por exemplo, que aumentaram significativamente nos Estados Unidos e ataques de caráter xenófobo e racista também nos Estados Unidos.
Ainda assim, Felipe Pathé Duarte acredita que há caminhos para travar estes fenómenos, nomeadamente com o “acompanhamento, monitorização e partilha de informações, com uma perspetiva mais ampla e mais concreta".
Questionado sobre a possibilidade de banir grupos como aquele que esta terça-feira atacou atores do teatro A Barraca, responde: "Obviamente."
Estamos a falar de um grupo num âmbito criminal e, portanto, todas as ações que bloqueiam este grupo são benéficas.
Na terça-feira, Dia de Portugal, um ator da companhia de teatro "A Barraca", Adérito Lopes, foi agredido por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para o espetáculo com entrada livre "Amor é fogo que arde sem se ver", de homenagem a Camões.
Em declarações à Lusa, Maria do Céu Guerra contou que a agressão ocorreu cerca das 20h00 de terça-feira, quando os atores estavam a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos e, junto à porta, se cruzaram com "um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
"Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara", relatou Maria do Céu Guerra, referindo o ator em causa teve de receber tratamento hospitalar.
O público só abandonou o espaço já depois das 22h00, acrescentou a atriz, que realçou que o sucedido só não foi pior por ter aparecido a Polícia de Segurança Pública (PSP).