Europa em alerta devido a aumento de infeções por superbactéria resistente, Portugal é o sétimo país com mais casos
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças refere que se tem registado um aumento da incidência de infeções pela superbactéria Klebsiella Pneumoniae e pede mais medidas de prevenção aos hospitais
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O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) emitiu um alerta, esta semana, devido ao aumento da incidência de casos de infeção por Klebsiella Pneumoniae, também conhecida como KPC, uma superbactéria resistente aos antibióticos hospitalares mais fortes. O organismo multirresistente faz também aumentar a resistência de outras bactérias.
Segundo o Jornal de Notícias, Portugal tem uma incidência de 4,19 casos de infeção por KPC resistente por cada 100 mil pessoas, um número acima da média europeia (3,7 casos por 100 mil). Entre 2019 e 2023, registou-se um aumento de 43% de novos casos de infeções. Numa lista de 30 países, Portugal é o sétimo a registar mais casos de infeção pela superbactéria Klebsiella Pneumoniae.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças avisa que tem registado um aumento da incidência em 23 Estados-membros da União Europeia.
Em declarações à TSF, o médico de saúde pública e colaborador da Direção-Geral de Saúde, David Peres, sublinha que a situação "é preocupante, mas não é nova". O especialista adianta que os países europeus têm tentado diminuir a incidência da superbactéria KPC, mas sem sucesso. David Peres pede, por isso, que se dê prioridade a este tema.
"O primeiro alerta foi em 2019 a nível europeu. O ECDC propôs a redução da proporção desta bactéria, mas, ao contrário disso, somente três países europeus conseguiram esta redução até hoje. Todos os outros países europeus têm demonstrado um aumento e, portanto, é preocupante, sim, tem de ser colocado na agenda e tem de estar como prioridade, uma vez que é imprescindível para a prestação de cuidados de saúde seguros para o doente", explica à TSF David Peres, reforçando que os hospitais precisam de adotar mais medidas de prevenção e controlo.
"Têm sido identificados vários clones que são muito virulentos, precisamos de intensificar ações: ter uma equipa nacional dedicada a esta questão e que possa coordenar estes esforços e intensificar também estes programas de controlo de infeção nos hospitais para também implementar estratégias para controlar esta bactéria", refere.
O médico de saúde pública acredita que além de os hospitais terem de adotar mais medidas preventivas, também a população deve mudar de comportamentos em relação aos antibióticos. "Sabemos que as pessoas, tendo meramente sinais de estarem constipadas, pensam logo em tomar um antibiótico e tentam até comprar nas farmácias ou pressionar o seu médico de família a receitar um antibiótico, quando, de facto, os antibióticos não funcionam para infeções víricas. A má utilização dos antibióticos no sentido de: 'Já me estou a sentir melhor, já não preciso deste antibiótico'... os antibióticos têm de ser tomados até ao fim e, portanto, precisamos de trabalhar com a população a melhor utilização de antimicrobianos."
Apesar de ter cura, a infeção é considerada grave, acontece sobretudo em meio hospitalar e afeta principalmente crianças, idosos e pessoas com o sistema imunitário enfraquecido. Os infetados apresentam sintomas como febre acima dos 39 graus, dificuldade em respirar, tosse seca ou catarro, sensação de mal-estar geral, dor no peito, entre outros. A transmissão acontece através do contacto direto com saliva ou outras secreções do paciente infetado, ou ainda através da partilha de objetos contaminados.
O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças considera que as medidas de prevenção e controlo impostas pelos hospitais europeus são insuficientes e recomenda boas práticas de higiene nos hospitais, o isolamento e triagem dos pacientes, e a redução do uso de antibióticos.