Eventos extremos: Portugal é "caro e perigoso". O alerta para pensar no ordenamento (e não só quando há tragédias)
No Fórum TSF, Filipe Duarte Santos garante que tem havido "dificuldade em fazer um planeamento adequado a eventos extremos". E afirma: "É endémico." Já Joaquim Poças Martins diz que Valência põe a nu erros do passado: "A água vem sempre buscar o que é dela"
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tem insistido no alerta para as consequências das alterações climáticas. Na terça-feira, fê-lo na COP29, a decorrer no Azerbaijão, referindo que "o ano de 2024 está a ser uma masterclass em destruição climática", com secas e inundações em vários pontos do globo. Um dos exemplos mais recentes é a tragédia de Valência.
No Fórum TSF desta quarta-feira, o geólogo Carlos Cupeto, da Universidade de Évora, sublinhou que Portugal tem "todo o tipo de planos", o problema é colocá-los em prática: "É aí que normalmente falhamos."
Portugal "é um país perigoso e caro", devido à exposição a riscos naturais — a questão tectónica, por exemplo — e ao planeamento e ao ordenamento do território que "não é o melhor".
A questão do turismo, que hoje nos impõe uma enorme mobilidade, cada vez com maior intensidade e que permite, por exemplo, com o low-cost, as pessoas irem às compras para o Natal a Paris ou a Londres, quer dizer, isto depois tem o reverso da medalha
Por sua vez, Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, enfatizou que o ordenamento do território em Portugal "é um problema muito endémico" e tem havido "dificuldade em fazer um que seja adequado a situações de eventos extremos".
O docente deixou, no Fórum TSF, um aviso particular em relação ao montado, às azinheiras e aos sobreiros no Alentejo.
Joaquim Poças Martins, professor de Hidráulica e Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, realçou, a propósito da destruição em Valência (Espanha), que este é um caso para compreender os erros cometidos, em particular, as obras no Rio Túria: "A água vem sempre buscar o que é dela. Nós não podemos mexer na natureza com grande violência. Nós não sabemos o suficiente para isso."

