"Evitar ser um obstáculo." Fernando Araújo entrega relatório em metade do tempo e garante que tinha plano de verão para SNS
Ouvido no Parlamento, o diretor demissionário do SNS respondeu a quem o critica, citando o exemplo da ponte D. Maria, no Porto: "A obra que muitos desacreditaram foi um sucesso, o que sucederia se mudassem a equipa a meio?" Araújo garantiu que nunca nomeou por "pressão política ou da comunicação social"
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Contrariando a ministra da Saúde, Fernando Araújo garante que tinha um plano para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrentar o verão e o inverno, mas que não o colocou no terreno porque o novo Governo tinha outra estratégia.
"Tínhamos um plano preparado para os próximos meses com um conjunto de medidas (...) que não colocámos no terreno por vários motivos: umas tinham sido amplamente criticadas e havia vontade de mudar o processo para um diferente. Explicámos à senhora ministra exatamente isso: que era mais adequado, mais avisado que o plano fosse preparado pela equipa que estava a preparar o Plano de Emergência de acordo com a estratégia e com a visão que a nova equipa tivesse, que nós não conhecíamos," explicou Fernando Araújo aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde, onde foi chamado pelo PS.
O plano incluía soluções como urgências centralizadas, urgências rotativas em algumas especialidades e urgências referenciadas, que "estavam numa fase de avanço muito significativa," garantiu o diretor executivo demissionário, lembrando ainda que a sua equipa não estaria sequer em funções para avaliar o plano que precisa de ser "acompanhado ao dia".
"Devo dizer que, no final do ano passado, quando foi da questão das urgências, nos fins de semana chegava a falar mais vezes com o INEM do que com o meu filho", sublinhou.
Sem querer revelar o teor das duas reuniões que teve com a ministra da Saúde, por “respeito institucional”, o diretor executivo demissionário do Serviço Nacional de Saúde (SNS), explicou que a tarefa de nomear as administrações das novas unidades locais de saúde (ULS) atribuída pelo anterior governo foi “um fardo” e que “nunca” nomeou dirigentes “sob indicação política ou pressão da Comunicação Social".
Na hora da saída, o diretor demissionário da Direção Executiva do SNS afirmou que o relatório de atividades pedido pela tutela foi realizado em metade do tempo, para que não fosse considerado "um obstáculo".
"Apesar de nos terem dado 60 dias para a sua efetivação, realizámos a tarefa em metade do tempo, de modo a permitir que a tutela possa executar as políticas e as medidas que considere necessárias para o SNS com a celeridade exigida, evitando sermos considerados um obstáculo à sua concretização," explicou Fernando Araújo aos deputados da comissão parlamentar de Saúde, onde está a ser ouvido .
O diretor demissionário do SNS adiantou que o documento está dividido em 12 capítulos: “São mais de 600 páginas, às quais junta um conjunto de cerca de 350 anexos com mais de 8.000 páginas, mas não será seguramente a quantidade que é relevante.”
“Foi uma tentativa séria de elencar de forma transparente as mais de 200 iniciativas em que trabalhámos, os problemas e as soluções estudadas, podendo naturalmente ser objeto de decisões políticas distintas, porém, permitindo uma base sólida para o estudo dos processos”, detalhou afirmando ainda que vai entregar um exemplar do relatório à presidente da Comissão de Saúde porque considera que tem o "dever de expor resultados do trabalho efetuado para que possa ser escrutinado”, o que considerou “salutar na vida pública”.
Justificando a demissão, Fernando Araújo considerou que a direção executiva do SNS "deve estar acima dos partidos" e tem de "merecer a confiança do Governo."
Sobre as mudanças no SNS, citou o exemplo da construção da Ponte D. Maria, no Porto, que tem 150 anos: "Foi apelidada como o maior ato de fé do mundo quando foi construída. Muitos não a queriam fazer, diziam que tinha problemas de segurança, mas 150 anos depois a obra lá está."
"Imaginem que, a meio da obra, mudava a equipa de engenharia e arquitetura. Se a ponte, no final, caísse era responsabilidade do engenheiro que a estava construir?", questionou Fernando Araújo, que desejou ainda "enorme sucesso" à nova equipa da Direção Executiva, que vai ser liderada pelo médico e militar António Gandra d'Almeida.
Notícia atualizada às 12h20