Ex-diretor-geral da saúde diz que Governo tem de criar comissão científica para a pandemia
Constantino Sakellarides defende que aquilo que acontece nas reuniões do Infarmed não é verdadeiro aconselhamento científico: o Governo ouve - com frequência opiniões diferentes - e depois faz o que quer.
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O antigo diretor-geral da saúde, Constantino Sakellarides, diz que o Governo precisa urgentemente de criar uma comissão ou um conselho científico que de facto aconselhe e dê orientações concretas sobre o que fazer e como agir perante a evolução da pandemia de forma a evitar situações como a da última semana com as escolas, em que uns especialistas defendem fazer uma coisa, outros outra... e o Executivo decide como lhe parece melhor.
Criticando aquilo que tem ouvido dito pelo primeiro-ministro e pelo Presidente da República sobre as posições dos peritos, o investigador da Escola Nacional de Saúde Pública diz que o modelo atual baseado em reuniões no Infarmed - onde regularmente um grupo de especialistas é chamado para dar a sua visão sobre o avanço da Covid-19 - não faz sentido.
"E não sou eu que digo isto, mas sim o estado da arte do aconselhamento científico em todos os países onde ele existe, que são os países mais avançados como nós devíamos já ser", detalha Constantino Sakellarides que dá o exemplo das escolas: cada especialista apareceu no Infarmed e agora na comunicação social a dar a sua opinião, "uns a dizer que as escolas devem fechar, outros a defender o fecho de metade e outros a dizer que fiquem abertas...". O problema é que "nenhum de nós, cada na nossa especialidade, é capaz de abarcar por si próprio todas as dimensões da questão que deve informar uma decisão desta gravidade e desta importância, sendo preciso reunir as várias competências e olhar para os dados, complementando os conhecimentos uns dos outros".
Por outro lado, o ex-líder da DGS diz que é fundamental que os cientistas se reúnam e consigam, depois deste trabalho de junção das diferentes perspetivas, fazer um conjunto de recomendações daquilo que o Governo deve fazer.
"As reuniões do Infarmed não permitem que se faça essa síntese", não sendo, na verdade, "nem aconselhamento científico, nem uma síntese científica daquilo que deve ser feito pois no final o poder político faz aquilo que lhe parece melhor tendo em conta aquilo que ouviu e que em muitos casos são posições divergentes".
Na prática, defende Sakellarides, o Governo acaba por agir seguindo a pressão social: quando esta pressão é para manter aberto, fica tudo aberto; quando, pelo contrário, a pressão é para fechar avança-se para o fecho.
"São precisas recomendações concretas, escritas e públicas" de comissões técnicas, como acontece, por exemplo, no Reino Unido e noutros países europeus", conclui.
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