Ex-professor acredita que futuro de Américo Aguiar pode passar pela liderança do Patriarcado de Lisboa
Para Jorge Cunha, depois da Jornada Mundial da Juventude o trabalho de Américo Aguiar poderia passar pela liderança do Patriarcado de Lisboa, mas a oposição interna é grande.
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Na contagem decrescente para a Jornada Mundial da Juventude, a TSF foi à procura do passado do bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, e falou com o antigo professor do cardeal no Seminário Maior do Porto, Jorge Cunha. Agora na Universidade Católica, o professor classifica Américo Aguiar como diligente, interessado e como alguém que apresentava muitas aptidões. Destacava-se pelo carisma e simplicidade.
"De facto era um caso especial. Diga-se que o rapaz tem um carisma qualquer, não é fácil de classificar o carisma dele, mas que tem carisma tem. Olhava para ele com aquele aspeto com que olhamos para os nossos alunos, que desejamos sempre que vão muito longe, mais Longe do que nós, que façam melhor do que nós. Reconhecia nele qualquer coisa, sim. Era um caso especial. A sua diligência, o aspeto até inovador que tinha, as suas aptidões, a sua capacidade de se interessar por coisas novas, apto para partir sempre para uma nova aventura. Já lhe achava muita graça por isso. Tinha uma juventude, uma jovialidade, qualquer coisa. Como dizemos na espiritualidade, que é preciso uma infância para se interessar pelos valores do reino de Deus e tal. Havia nele isso", recordou Jorge Cunha.
Para Jorge Cunha, depois da Jornada Mundial da Juventude o trabalho de Américo Aguiar poderia passar pela liderança do Patriarcado de Lisboa, mas a oposição interna é grande.
"Controvérsia no sentido de que calculo que tem algumas oposições e alguns anticorpos entre o clero de Lisboa. Essas características que fazem a sua virtualidade desencadeiam, em muitas pessoas e muitos meios, alguma perplexidade, alguma oposição mesmo porque a capacidade de trabalho que tem, a capacidade de espontaneidade, para um hierarca desse género, não seria suficiente. A igreja é um pequeno mundo onde há todas as virtudes e todos os defeitos. Todos os bispos que são nomeados desencadeiam mecanismos de inveja entre seus pares e tudo isso, não tenho dúvida disso. Não tenho nenhuma ilusão sobre a vida da igreja, muitas pessoas terão inveja dele certamente. Desejo do fundo do coração que venha a ser uma figura que desenvolva o seu carisma, que possa ter uma grande utilidade para a vida da igreja e que se previna, por isso, porque a vida de um sacerdote tem imensas complexidades. Lembro-me de outro hierárquico que dizia que quanto mais alto se sobe na hierarquia, mais frio faz. Espero que esse frio que o amigo Américo certamente vai ser sentir na sua elevação, porque ele vai sempre ficar cada vez mais só, cada vez mais necessitado de robustez psíquica e espiritual, que isso nunca o possa vencer", reconheceu à TSF o antigo professor do cardeal.
Jorge Cunha admite que a nomeação de Américo Aguiar como cardeal mostra que a igreja está a viver um novo tempo, porque no passado a figura de cardeal era associada a alguém muito rígido.
"A nomeação do cardeal Américo mostra-nos, de facto, essa novidade. Mostra-nos que, de certo modo, um certo tipo de pós-moderno também entrou na igreja. Pós-moderno quer dizer uma certa leveza. Um cardeal antigamente era uma coisa pesadíssima, aqueles cardeais da cúria romana, aquilo era uma coisa seríssima e, por um lado, acho que esta inflexão e esta leveza que entrou corresponde a um outros aspetos que estavam escondidos e que também fazem parte da vida da igreja. A nomeação do D. Américo e do cardeal Américo representa um tempo novo", acrescentou.
Jorge Cunha lembra mesmo que, já no seminário, por brincadeira, chamavam o então aluno Américo Aguiar de cardeal.
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