"Exemplo de competência" e salva-crises. Após pasta 'negra', José Luís Carneiro está disponível para liderar PS
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José Luís Carneiro prepara-se, aos 52 anos, para a hipótese de vir a assumir um dos maiores desafios da sua vida profissional e política. Após aceitar a pasta da administração Interna, conhecida como 'negra' por 'queimar' ministros, o socialista será candidato à liderança do Partido Socialista numa altura em que o Governo de maioria absoluta de António Costa acabou de cair e está envolto em crise e polémicas.
Ao longo do seu percurso político, o ministro tem vindo a ser descrito como confiável, leal e salvador de crises. Alguém que está sempre em linha com as posições oficiais do partido, faz declarações cautelosas e nunca arrisca. Com esta postura tem passado gabinetes governamentais e parlamentares e foi chefe de gabinete e assessor.
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De professor a autarca de Baião
Natural de Baião, o atual ministro licenciou-se em Relações Internacionais, tirou mestrado na área de Estudos Africanos e fez doutoramento em Ciência Política e Administração. Durante este percurso académico tornou-se professor. Entre 1995 e 2005 deu aulas no privado - na Universidade Lusíada, onde tem funções suspensas, e no Instituto de Ciências da Informação e Administração, em Aveiro - nos departamentos de Relações Internacionais, Economia e Comércio Internacional.
A ligação à pasta da Administração Interna é antiga e começou precisamente nesta fase da sua carreira enquanto docente. Em 1999 tornou-se assessor do gabinete do secretário de Estado Adjunto do ministro, entre 1999 e 2000.
Depois disso, voltou a casa para ser vereador sem pelouro em Baião, cargo que abraçou durante sete anos. Em 2005 candidatou-se à presidência da câmara da vila e venceu. Por lá ficou nos anos seguintes e foi conseguindo sempre votações cada vez mais altas. Na sua última eleição autárquica, em 2013, chegou aos 71,41% de votos.
Ainda enquanto autarca de Baião foi escolhido como líder da maior Federação do PS, no Porto, entre 2012 e 2014. Quando deixou a autarquia e a federação socialista, presidiu à Associação Nacional dos Autarcas Socialistas durante um ano, entre 2014 e 2015.
Um "exemplo de competência" com grande "capacidade de trabalho"
Paulo Pereira foi número dois de José Luís Carneiro, de quem é amigo desde os tempos de escola, e agora está à frente do município de Baião. Do amigo de infância só tem coisas boas a dizer e descreve-o como um homem de palavra.
"Sou amigo dele desde o recreio da escola. Fizemos oito anos enquanto vereadores da oposição na Câmara de Baião, dez anos em que fui vice-presidente dele. É uma vida. O José Luís Carneiro é um exemplo de competência, de capacidade de trabalho, de integridade, de idoneidade, de lealdade, de diálogo, de perante os problemas fazer parte das soluções, sempre com uma atitude grande lisura e palavra de honra. Deem-lhe um desafio daquilo que ele gosta de fazer - é político e gosta - e vejam os resultados que ele é capaz de obter", sublinhou Paulo Pereira.
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Acredita que José Luís Carneiro será um bom secretário-geral do PS e também primeiro-ministro, mas também faz elogios a Pedro Nuno Santos, que ainda há-de confirmar a candidatura.
"Se forem só os dois candidatos, não sei se vai haver mais algum. O Partido Socialista irá ter um grande secretário-geral e um putativo bom primeiro-ministro. Queria dizer que em relação ao Pedro Nuno Santos, enquanto autarca, também só posso falar bem porque sempre que é foi necessária a sua intervenção e relativamente a um conjunto de questões que tinham a ver não só com Baião, mas com o nosso território, sempre se mostrou disponível e, desse ponto de vista, é bom para o Partido Socialista ter dois putativos candidatos disponíveis para serem secretários-gerais e, naturalmente, primeiro-ministro. Estou convencido de que será uma disputa interessante e, obviamente, gostaria muito que pudesse ser ele o próximo secretário-geral", sublinhou o amigo.
"Segurista" assumido, trocou a câmara pela secretaria de Estado das Comunidades da geringonça
Quando deixou a Câmara de Baião, José Luís Carneiro assumiu-se como apoiante de António José Seguro, antigo secretário-geral do PS que António Costa derrotou para chegar a líder do partido.
Ainda assim, Costa não guardou ressentimentos e chamou-o para o seu Executivo pouco depois, em 2015 e já com a geringonça, para o cargo de secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
Quatro anos depois sucederia a Ana Catarina Mendes como secretário-geral adjunto do PS, tornando-se o número dois do partido, a seguir a António Costa.
MAI: a pasta negra do Governo
Eduardo Cabrita aguentou como ministro da Administração Interna praticamente até ao fim da anterior legislatura, mas sempre no centro de polémicas como o caso do cidadão ucraniano que morreu no SEF, o atropelamento do trabalhador que fazia serviços de manutenção na autoestrada A6 e a controvérsia da contagem de votos no círculo da Europa.
Para lidar com a trabalhosa pasta, no seu terceiro Governo, António Costa chamou José Luís Carneiro. Assim que assumiu o cargo, o ministro teve de lidar com a pressão do sindicato que representa os inspetores do SEF para que reavaliasse a extinção do serviço e com o maior sindicato da PSP, que anunciou um caderno de encargos com "questões estruturais para os próximos anos".
Não acedeu a todas as reivindicações, mas conseguiu acalmar os ânimos em torno do pelouro da Administração Interna e reunir consenso dentro e fora do partido. Agora, com a queda do Governo de António Costa, não perdeu tempo e posicionou-se como candidato à liderança do partido, o próximo grande desafio da sua carreira.
