Dora Fonseca afirma à TSF que "tem havido recuos da tutela relativamente a várias matérias que têm sido conseguidos graças à atividade grevista".
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Dora Fonseca, investigadora do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social, explica que o Governo de esquerda e a entrada de fundos europeus criaram expectativas de melhoria das condições de vida das pessoas que não foram cumpridas, tendo sido isso que levou às várias greves que marcam o início do ano em Portugal.
"O facto de termos um Governo mais à esquerda e de termos fundos comunitários a entrar suscitaram uma série de expectativas acerca da melhoria das condições de vida da população em geral", refere à TSF a investigadora. alertando que "também foram feitas uma série de promessas eleitorais, que estariam no programa do Governo, que os grupos profissionais que agora se encontram em greve esperavam que fossem efetivamente postas em prática".
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E algumas greves têm resultado: "Tem havido recuos da tutela relativamente a várias matérias que têm sido conseguidos graças à atividade grevista. Não digo que todas as reivindicações tenham sido atendidas, mas, de facto, muita coisa foi conseguida. No caso dos enfermeiros, a contagem de alguns anos de serviços. No caso dos professores, há um recuo em relação a determinadas matérias, como a questão de os diretores de escola estarem envolvidos na contratação dos professores e serem eles que teriam o principal mandato nessa questão."
"Há coisas que estão a ser conseguidas através da greve", prossegue, antecipando que possam existir ainda mais greves: "Neste assunto dos professores, por exemplo, ainda mais água vai correr debaixo da ponte."
A investigadora diz que o S.TO.P "tem uma atitude bastante aguerrida", mas é preciso pensar "até que ponto essa postura é benéfica do ponto de vista negocial".
"Essa inflexibilidade e esse tom aguerrido fazem sentido neste momento, em virtude do cansaço desta situação que estão a viver", reflete Dora Fonseca.
A investigadora duvida que não haja influências políticas no S.TO.P., já que é difícil que toda a gente seja "apartidária".
E isto não é a morte dos sindicatos: "Os sindicatos continuam a desenvolver a sua atividade como sempre desenvolveram. Continuam a assinar acordos coletivos de trabalho, que é uma coisa que se calhar não é tão visível, porque não é publicitada todos os dias, mas que fazem grande diferença na vida de milhares de trabalhadores."
Ainda assim, admite um decréscimo no número de filiados nos sindicatos portugueses.
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CP e professores são mais afetados. O roteiro de um país divido em greves
O início do ano de 2023 em Portugal tem sido marcado pelas constantes greves em vários setores da economia nacional.
A CP e as escolas têm sido as mais afetadas pelas paralisações. No caso dos comboios, os sindicatos estão em greve até quinta-feira, depois de já terem estado boa parte de fevereiro, além de terem um pré-aviso para os dias compreendidos entre 10 e 17 de março.
Os professores, pelo seu lado, estão em greve há vários meses e o Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (S.TO.P.) continua a renovar os pré-avisos. Esta quinta e sexta-feira, nove sindicatos, incluindo a Fenprof, a FNE e a Federação Nacional de Professores, também têm uma greve marcada.
Há ainda outros setores afetados. Nas finanças, os trabalhadores dos impostos vão parar nas três primeiras e nas três últimas horas de trabalho a partir desta quarta-feira, numa greve que será renovada todos os meses caso a Autoridade Tributária não melhore as condições de trabalho.
Os tribunais também estão com dificuldades, com audiências desmarcadas, devido à greve dos funcionários judiciais que dura, pelo menos, até 15 de março. Na saúde, os enfermeiros pararam em fevereiro e em março é a vez dos médicos. A Federação Nacional avança com uma greve nos dias 8 e 9, mas sem o apoio do Sindicato Independente dos Médicos, que continua a apostar nas negociações.
Na comunicação social também começa a haver movimentações. A comissão de trabalhadores da TVI entregou um pré-aviso de greve para o dia 8 de março, tendo um plenário de trabalhadores marcado para esta quarta-feira. Também reunidos vão estar os trabalhadores da agência Lusa, que exigem um aumento salarial.