Da lama, nasceu uma cidade nova. Memórias da construção da Expo'98, 25 anos depois da abertura de portas.
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A museóloga e gestora cultural Simonetta Luz Afonso foi comissária de Portugal no evento que 1998 colocou Lisboa no centro do mundo - a Expo"98. "Adorei o trabalho que fiz", conta, em declarações à TSF, no dia em que se assinalam 25 anos da abertura portas daquela que foi a maior exposição de sempre em Portugal, com mais de 10 milhões de visitantes entre portugueses e estrangeiros.
"Foi a primeira vez que fiz um trabalho tão completo, desde pensar o pavilhão, trabalhar com as equipas dos arquitetos, construí-lo, criar os conteúdos, abrir e gerir a abertura. Foi um trabalho do A ao Z."
Para Simonetta Luz Afonso, o sucesso da Expo"98 teve um "um papel importantíssimo, porque criou confiança nos portugueses", demonstrando a capacidade do país para concretizar grandes projetos, numa altura em que "havia sempre aquela dúvida: "a se calhar são do sul, não conseguem cumprir os prazos"".
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Até à abertura de portas, multiplicavam-se as críticas na imprensa. Muitos vaticinavam, por exemplo, que a pala do Pavilhão de Portugal, desenhada pelo arquiteto Siza Vieira e construída pelo engenheiro Segadães Tavares, ia cair.
"Eu até cheguei por brincadeira - porque é preciso também algum sentido de humor - a dizer ao arquiteto Siza "vamos pôr-nos debaixo da pala aos dois, como o Afonso Domingues, para ver se eles se calam"", conta a museóloga. A pala continua de pé "e ninguém se lembra hoje que podia cair".
Mas "houve situações muito complicadas", reconhece, como as dificuldades provocadas pelo inverno muito chuvoso. "Quando se estavam a fazer as fundações, só aparecia lama e terra, lama e terra, e nunca mais se chegava ao fim."
Foi precisamente no meio da lama que Simonetta Luz Afonso se encontrou pela primeira vez com António Costa, então ministro dos Assuntos Parlamentares. "Ele veio visitar a Expo e eu estava no meio das obras com umas botas daquelas até cá acima, como se fosse à pesca, no meio da lama. E ele costuma me contar que olhou para mim, viu-me no meio daquela confusão toda, e disse assim: "temos pavilhão"".
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"A Expo 98 foi um momento importantíssimo para a cidade. Criou-se uma cidade nova. A ideia era que essa cidade contaminasse as vizinhanças, o Beato, Marvila, Loures", o que acabou por não se concretizar, consequência da crise económica que abalou o país nos anos seguintes.
Para o presidente da junta de freguesia do Parque das Nações, Carlos Ardisson, a Expo"98 "permitiu que se elevasse a fasquia do que as pessoas viam como cidade: era possível em Lisboa existir um espaço onde as pessoas tivessem jardins, tivessem espaço público, existissem equipamentos que pudessem frequentar e que estivessem num ambiente muito mais agradável, junto ao rio".
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Carlos Ardisson reconhece que "alguns equipamentos" estão agora a precisar de manutenção, mas assegura que a autarquia está apostada na recuperação.
Já o abandono do Pavilhão de Portugal é algo que o autarca classifica como uma das suas "grandes penas".