"Não foi o azar dos Távoras", mas anda lá perto. Na entrevista à TSF, o Ministro dos Negócios Estrangeiros admite que, com a pandemia, as exportações portuguesas só em 2021 ou 2022 voltarão a atingir o patamar de crescimento conseguido em 2019.
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A internacionalização da economia é um dos seis pontos fundamentais, na ótima da diplomacia portuguesa, em matéria de prioridades de política externa do país. A propósito da publicação do livro "Evoluir", que reúne um conjunto de suas intervenções públicas e textos desde 2018, Augusto Santos Silva admite que a pandemia fez raciocinar de forma diferente sobre as projeções para as exportações das empresas portuguesas.
Os 44% atingidos em 2019, com o objetivo do limiar dos 50% do PIB a atingir no espaço de uma década, só voltarão a ser conseguidos, acredita o MNE, em 2021 ou 2022. "Claro que me preocupam os efeitos da crise económica sobre a internacionalização da economia", diz.
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O FMI, na quarta-feira, previu uma quebra de mais de 10% para o conjunto das economias da zona euro... 12,8% em Itália e Espanha, 12,5% em França, 7,8% na Alemanha.
As previsões do Fundo Monetário Internacional incidiram apenas nas maiores economias. E quando chegar a previsão para Portugal? Se for da ordem dos dois dígitos é quase o dobro do que foi inscrito no orçamento suplementar (que prevê 6,9% de quebra da economia), cuja votação final global será daqui a uma semana.
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Este quadro pode ter um impacto significativo na aposta na internacionalização da economia portuguesa, mas Santos Silva, mas santos Silva como que desvaloriza as previsões: "Como sabe, eu profissionalmente sou professor numa Faculdade de Economia (no caso, a do Porto), e como gosto muito de usar de humor, até tenho uma proposta, que até resolveria muitos problemas, que era criarmos internacionalmente o Dia Mundial das Previsões. Toda a gente que quisesse fazer previsões faria nesse dia e depois esperaria até ao ano seguinte para saber se elas se cumpriram".
A TSF pergunta então ao sociólogo catedrático se acredita mais nos métodos quantitativos ou qualitativos: "Eu prefiro perceber melhor a realidade. E ter em conta os indicadores. Claro que nós já temos os indicadores do primeiro trimestre e já vimos a pancada que a economia portuguesa e todas as economias levaram e estão a levar."
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O titular da diplomacia portuguesa afirma que a expectativa é que a saída da crise, "se não for em 'v'", isto é, a uma quebra acentuada corresponder uma rápida recuperação, "que era o que nos dava jeito, que seja pelo menos em 'U', talvez com uma recuperação mais demorada. A parte mais baixa da curva demora algum tempo, mas haverá certamente uma recuperação". O governante confia nos indicadores que estimam, já no próximo ano, "uma subida imediata quer do PIB, quer do emprego". Destaca que este aspeto é algo que "distingue bem esta crise da crise de 2008-2010. Demorou muito mais tempo no seu momento mais baixo, mais aflitivo".
Mas também reconhece especificidades ao impacto da pandemia: "as características desta crise levaram e levam a que uma das suas vítimas principais seja a dinâmica exportadora. E desse ponto de vista nós temos... não diria o azar dos Távoras, mas estamos confrontados com um acontecimento completamente novo e completamente inesperado e que nos atinge numa altura em que nós estávamos numa fase claramente de reforço da abertura da nossa economia, de peso das exportações no produto, etc. ".
Havia o objetivo de chegar ao limiar dos cinquenta por cento de peso das exportações no PIB na próxima década. Santos Silva reconhece que "esse objetivo tem agora de ser corrigido". O raciocínio desenvolvido aponta para a recuperação dos "níveis atingidos em 2019, senão em 2021, pelo menos em 2022". São dois a três anos, se tudo correr bem, para o país voltar a atingir o patamar a que tinha chegado em matéria de exportações.