"Extremamente perigoso." ChatGPT jamais substituirá jornalistas, defende sindicato
Luís Simões defendeu que mais do que publicar diretrizes éticas ou regular o ChatGPT, a prioridade deve ser informar de forma rigorosa.
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O presidente do sindicato dos jornalistas português, Luís Simões, alerta para os riscos e consequências que o ChatGPT, a tecnologia de inteligência artificial capaz de interagir com o utilizador e escrever textos sobre os mais variados temas, traz à profissão. Apesar de reconhecer que nenhuma "máquina" consegue substituir o trabalho de um jornalista, Luís Simões acredita que a crença absoluta nas tecnologias de inteligência artificial pode trazer consequências "muito preocupantes" a nível laboral à profissão.
"A tentação de continuar a emagrecer redações já de si muito depauperadas, redações com muito pouca gente, com gente a fazer o trabalho de três, pode haver a tentação. Ainda por cima, neste momento, estamos a falar de um contexto que mais do que informação de qualidade, queremos informação rápida. Pode haver essa tentação de utilizar essas ferramentas para dar informação ao segundo, mesmo que não seja tão verificada como devia ser. E esse é um dos perigos", explicou o presidente do sindicato dos jornalistas à TSF.
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Luís Simões considerou "extremamente perigosa" a ideia de que ferramentas como o ChatGPT pudessem criar um jornal e sublinhou que a função de um jornalista é muito mais complexa do que escrever um texto.
A existência e uso destas ferramentas, apesar de legal, pode levar à falta de confiança dos leitores nos jornalistas, segundo Simões, pelo que, para o líder do sindicato, o foco deve ser informar de forma rigorosa e isenta e não tentar regular ou controlar o uso do ChatGPT.
"Acho que é um exercício quase kamikaze, porque é transportar para os nossos leitores, para a sociedade, a sensação de que há uma coisa chamada ChatGPT que faz um jornal pelos jornalistas. Não, não faz. Porque o jornalismo tem que assegurar o contraditório. O jornalismo tem que verificar factos. O jornalismo é muito mais complexo do que fazer uma pergunta a um ChatGPT e depois transportar para as folhas de um jornal esta ideia peregrina de que jornalismo se faz sem jornalistas", destacou.
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O presidente do sindicato dos jornalistas disse, ainda, não acreditar numa "visão catastrofista" acerca do futuro do jornalismo e argumenta que é necessário haver consciência social acerca da relevância desta profissão.
"Acho, sobretudo, que nós enquanto sociedade devemos estar alerta para o facto de o jornalismo ser um dos pilares da democracia, por isso estávamos a falar pela forma como fiscaliza, pela forma como dá voz a todas as partes, pelo respeito pelos códigos de ética que temos", reiterou.
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Por considerar que as funções desempenhadas por um jornalista, como o recurso ao princípio do contraditório e da verificação, "não são substituíveis", Simões evidencia que apenas os jornalistas podem dar informações, já que são estes que estão "treinados para o fazer".
"Eu diria que como isso não é substituível, o que temos de pensar é dar à sociedade esta informação de que só é possível haver informação se ela for verificada, porque quem está treinado para o fazer são os jornalistas", realçou.