Fábrica do Inglês e Museu da Cortiça. É desta que vai ser monumento de interesse público?
A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) propôs que aquele complexo seja assim classificado. O imóvel está nas mãos da Caixa Geral de Depósitos e poderá ser vendido em breve.
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O enorme complexo que ocupa quase um quarteirão destaca-se pela sua cor amarelo torrado. Tem os enormes portões de ferro encerrados com correntes e cadeados. As cegonhas são os únicos seres que habitam o local nesta altura. Pelas frestas pode ver-se que, onde dantes era empedrado, crescem agora ervas que já vão altas. Manuel Ramos lamenta o estado de abandono em que se encontra o local. "Não queira saber, é uma dor no coração", afirma. O historiador foi o criador e diretor do Museu da Cortiça, um dos edifícios que está incluído nesta antiga fábrica corticeira inaugurada nos finais do século XIX. Era propriedade de um português, um catalão e também de um inglês, daí o seu nome. Nos anos 90 do século XX todo o edifício foi reabilitado e, além do museu, incluía um espaço de restauração e de espetáculos. Passou para as mãos de um grupo económico que faliu e nesta altura é a Caixa Geral de Depósitos quem tem em seu poder o património arquitetónico.
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Manuel Ramos já viu muitas vezes a intenção de classificar o espaço como monumento de interesse público. Traz consigo uma cábula onde anotou todos os obstáculos do processo. "Em 14 de abril de 2006 houve a proposta para abertura para monumento de interesse público pela Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial", lembra. "Em abril de 2018 houve a proposta por parte da DGPC ao ministro da Cultura, só que caducou o procedimento da classificação", conta. "Agora em 2022 estamos a assistir ao mesmo que em 2018", acrescenta. Desde 2006 até hoje o processo não andou. O vereador da câmara de Silves, Maxime Sousa Bispo, é mais otimista. Acredita que desta vez é que é. "É verdade que este procedimento caducou porque se tinham acabado os prazos previstos na lei para a emanação de uma decisão final de classificação mas com a persistência da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial e do Município de Silves, a DGP voltou a pegar no processo e parece que vamos chegar a um final feliz", afirma.
No interior do museu, há 13 anos encerrado, continuam adormecidas máquinas únicas. "É toda uma oficina que podia ser posta a funcionar", garante Manuel Ramos
De Silves eram exportadas rolhas para todo o mundo e, diz-se, para as melhores marcas de champanhe.
Para não se estragar, o acervo documental está nesta altura colocado no Arquivo Distrital de Faro e conta a história de uma localidade de operários corticeiros. "Todos acontecimentos históricos, desde greves, lockouts e toda a turbulência no início dos século XX" estão retratados nos documentos.
A autarquia de Silves espera que um imóvel que faz parte da história da cidade seja rapidamente recuperado. Nesta altura há um grupo português interessado em investir e já celebrou contrato-promessa com a Caixa Geral de Depósitos. "O projeto contempla a reabilitação do edifício que será considerado monumento de interesse público", garante o vereador. No local pretende-se construir também um aparthotel.
O objetivo da autarquia é que dentro em breve se consiga assinalar a classificação da Fábrica do Inglês e que ela passe para mãos que a queiram preservar.