Face Oculta: Presidente da REN diz que gestão dos resíduos estava numa «zona abaixo do radar»
O presidente da REN admitiu a existência de falhas no processo de gestão de resíduos naquela empresa pública, considerando que se tratava de uma atividade que andava «numa zona abaixo do radar».
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Rui Cartaxo, que foi arrolado pelo Ministério Público (MP) como testemunha de acusação no processo 'Face Oculta', não pôde depor nessa qualidade, porque a REN é assistente nos autos, acabando por prestar declarações enquanto representante da assistente.
No julgamento, que decorre no tribunal de Aveiro, o presidente da empresa disse que «havia uma deficiência clara ao nível da execução», no tratamento dos resíduos, nomeadamente com «problemas de controlo logístico».
«Nas próprias estações as pesagens eram mal controladas. Nalguns casos, a empresa aceitava talões de pesagem sem ter testemunhado as operações pesagens. A empresa ou não tinha ou quase não usava meios de pesagem próprios e estava sistematicamente a confiar em pesagens de terceiros», afirmou em resposta ao MP.
Rui Cartaxo, que sucedeu no cargo de presidente da REN a José Penedos, coarguido no processo, adiantou ainda que após as notícias sobre o caso 'Face Oculta', «todos na empresa perceberam que havia uma atividade que andava ali numa zona abaixo do radar e passou a estar acima do radar».
«O Conselho de Administração passou a tomar em mãos o acompanhamento deste processo», disse Cartaxo, adiantando que, já durante a sua presidência, a empresa tomou um conjunto de medidas para assegurar que estas situações não voltavam a ocorrer.
Como exemplo, Cartaxo apontou a compra de meios próprios de pesagem e a «obrigação de não serem aceites nenhuns comprovativos de pesagem que não tivessem sido certificados por funcionários da empresa», além de medidas estruturais, como a criação de uma área de compras e de um gabinete de auditoria interna.
Apesar de não ter ligação à área dos resíduos, o procurador do MP lembrou que Rui Cartaxo veio a ter intervenção nesta área.
Rui Cartaxo, que na altura dos factos era administrador financeiro da REN, referiu que teve um «contacto singular» com esta área, explicando que este dossier lhe chegou às mãos «por competência da cadeia hierárquica».
Afirmou ainda que não levou esta prorrogação ao conselho de administração da empresa, ao contrário do que aconteceu com a primeira prorrogação, porque não viu necessidade disso, assegurando que não sofreu nenhuma pressão neste processo.