Polícias denunciam furos que demoram semanas a ser reparados e divisões sem carrinhas de intervenção rápida ou esquadras que têm de partilhar carros patrulha. PSP tem de andar a pé.
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A demora na aprovação do Orçamento do Estado para 2020 está a encher os parques de estacionamento da PSP com viaturas avariadas, à espera de dinheiro para ir ao mecânico.
Os polícias relatam mesmo casos em que tiveram ir para um jogo de futebol (do Benfica) numa carrinha vermelha habitualmente usada para mercadorias ou de um carro quase novo que esteve duas semanas à espera de verba para a reparação de um pneu.
Carlos Meireles, presidente do Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da PSP, diz que são "dezenas e centenas" de carros e carrinhas paradas que se encontram, em crescendo, em parques das áreas metropolitanas, nomeadamente no Porto, Setúbal ou Sintra.
O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) confirma o cenário anterior, dizendo que "se for a alguns locais os parques estão cheios de viaturas por reparar", por vezes com pequenas avarias baratas de resolver.
Paulo Rodrigues detalha que a falta de viaturas é transversal a vários serviços, acrescentando que há mesmo várias divisões da PSP nas grandes cidades que não têm disponível uma única carrinha para as Equipas de Intervenção Rápida.
Em Lisboa há ainda casos de um carro patrulha usado por duas ou três esquadras.
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Carlos Meireles e Paulo Rodrigues explicam que a razão é o uso intensivo dado às viaturas da PSP, mas o cenário agravou-se bastante no final de 2019 e início de 2020, sendo que as explicações que lhes têm sido avançadas passam pela demora na aprovação do Orçamento do Estado que obriga a gerir o orçamento policial em duodécimos.
"Aquilo que no entanto não percebemos é que várias dezenas ou mesmo centenas de viaturas estão completamente inoperacionais apenas por pequenas avarias", adianta o dirigente da ASPP. Em dezembro, por exemplo, conta Paulo Rodrigues, uma Equipa de Intervenção Rápida teve de usar, num jogo do Benfica, uma viatura vermelha de transporte de mercadorias porque não existia outra disponível.
Duas semanas para reparar um furo
O presidente do sindicato dos chefes diz que "batemos no fundo" e avança um caso que se passou no comando a que pertence: um carro novo teve um furo e esteve parado duas semanas porque não existia dinheiro para reparar o pneu. "Isto não é aceitável", afirma.
Carlos Meireles acrescenta que recentemente no Porto pelo menos dois piquetes tiveram de andar apeados porque não existiam viaturas disponíveis, sublinhando que o policiamento a pé tem consequências negativas para a população e o cidadão comum. "Para os polícias tanto faz andarem a pé ou de carro", diz.
"Como é óbvio a resposta policial a um acidente demora mais tempo", sublinha Carlos Meireles, pois "nós trabalhamos com as condições que o Estado nos dá".
O presidente do sindicato dos chefes da PSP acredita que nunca viu tantos polícias a andar a pé e que, "como se sabe, o Orçamento do Estado só vai entrar em vigor em março"... Até lá "a PSP não tem verba e terá de fazer milagres para reparar os veículos", conclui.
"Haverá sempre problemas nas forças de segurança", diz secretário de Estado
Confrontado pela TSF com estes problemas que a PSP apresenta, o secretário de Estado adjunto e da Administração Interna reconhece que a situação não se resolve de um dia para o outro. No entanto, Antero Luís considera que as dificuldades podem ser atenuadas se se fizer uma partilha de serviços, como o Executivo sugere.
"Quando o Governo pôs no seu programa a questão dos serviços partilhados, o que nós pretendemos no fundo é estudar soluções para evitar estas situações", aponta o secretário de Estado. "Se nós conseguirmos implementar, como está previsto, os serviços partilhados entre as duas forças, por exemplo, das oficinas para reparação das viaturas, provavelmente conseguiremos atenuar esse tipo de situações."
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O integrante do Governo admite que se trata de "milhares de viaturas, milhares de instalações".
Depois de manifestar preocupação quanto aos efeitos da paralisação das forças de segurança, Antero Luís considerou que "haverá sempre problemas nas forças de segurança, mas a obrigação do Governo é ir resolvendo esses problemas que vão aparecendo".
O secretário de Estado esclareceu à TSF que tem havido avanços nas negociações entre os elementos GNR e PSP. Contudo, Antero Luís não avançou em que áreas foram conseguidos esses avanços.
* com Catarina Maldonado Vasconcelos