Falta de templos motiva "mesquitas clandestinas": "Não temos nenhuma garantia de que aí não haja fundamentalismo"
O candidato social-democrata à Câmara Municipal do Porto, Pedro Duarte, não se opõe à construção de novos templos, desde que não existam encargos para o erário público. Já a candidata socialista à Câmara Municipal de Lisboa, Alexandra Leitão, pede um "grande debate" para ser encontrada a "melhor solução"
Corpo do artigo
O historiador Pacheco Pereira revela estar preocupado com a possível disseminação de ideais "fundamentalistas" nas "mesquitas clandestinas", que começam a surgir em Lisboa e no Porto, devido à falta de locais de culto.
No programa O Princípio da Incerteza, da TSF e da CNN Portugal, Pacheco Pereira defende mesmo que a escassez de locais de culto é mais um exemplo "típico das asneiras que se fazem" nas metrópoles portuguesas, obrigando a que as orações aconteçam na rua.
"As orações na rua devem-se, em grande parte, a não haver locais ou mesquitas para as pessoas orarem. Uma mesquita é um lugar de culto. As mesquitas, tradicionalmente, principalmente no caso português, têm tido um papel importante de moderação e aculturação", esclarece.
Ora, na falta de templos muçulmanos nas grandes cidades, alguns crentes acabam por frequentar "mesquitas clandestinas", que funcionam em apartamentos, muitas vezes com falta de condições de salubridade. E é nestes contextos que o historiador aponta que não existe "nenhuma garantia" de que não haja aqui a propagação de "fundamentalismo". Nota, contudo, que tal tem que ver mais com culturas e contextos do que com o texto islâmico.
As pessoas vão para mesquitas clandestinas que funcionam em apartamentos, em Lisboa. Não temos nenhuma garantia de que aí não haja fundamentalismo. E há. Eu leio os textos.
O programa contou este domingo Sheikh David Munir, líder da Mesquita Central de Lisboa, que revela que o problema maior é a oração de sexta-feira. Adianta ainda que, em Portugal, não é conhecido o número de templos existentes, quais os seus líderes religiosos e qual o discurso feito. Sobre a construção de um novo templo na Rua do Benformoso, em Lisboa, Sheikh David Munir alerta que, atualmente, a construção será "pequena", devido à falta de condições e denuncia cisões políticas entre a comunidade do Bangladesh.
No que diz respeito à cidade do Porto, o candidato social-democrata à Câmara Municipal, Pedro Duarte, não vê quaisquer problemas com a construção de uma mesquita, desde que tal não implique o erário público.
"Jamais poderia ser apologista de haver qualquer espécie de proibição de um local de culto. Era o que faltava", ressalva, acrescentando, contudo, que a cedência de um local por parte do município "implica custos para o erário público" e, por isso, tem "mais dúvidas".
"É uma questão de priorização daquilo que é mais relevante para a aplicação de dinheiros públicos. São matérias diferentes desse ponto de vista", sublinha.
Confrontado sobre se isso implica também que a Igreja Católica não vai ter nenhum apoio da Câmara Municipal do Porto, Pedro Duarte garante que, se for eleito, "irá, com certeza, avaliar todo o tipo de investimento público que fizer".
"É minha apologia: temos de ser muito criteriosos na utilização de dinheiros públicos", insiste.
Já Alexandra Leitão, candidata do PS à Câmara Municipal de Lisboa, sobre a construção de uma mesquita na capital, entende que deve ser feito um debate para que seja possível apurar qual a melhor solução.
"É sempre melhor alguma coisa que se faz abertamente, com licenciamentos e transparentemente, do que aquilo que se faz na clandestinidade ou escondido e até na rua, incomodando outros. A esta luz, é fazer um grande debate e tentar que se compreenda qual é a melhor solução para Lisboa", afirma.