"Fazer algo pelo meu país." Médicos estudam transporte de doentes para ajudar Ucrânia
Médicos portugueses e luso-ucranianos participaram num curso de transporte de doentes em Coimbra. O grupo irá partilhar os conhecimentos com profissionais ucranianos. O coordenador da Medicina de Catástrofe do Ministério da Saúde da Ucrânia quer disponibilizar este curso também no país.
Corpo do artigo
Ulyana Pidhirna nasceu na Ucrânia e está em Portugal desde os sete anos. Licenciou-se em enfermagem e em medicina e foi uma das participantes do curso de formação de transporte de doentes para médicos portugueses e luso-ucranianos. "A motivação é realmente fazer algo pelo meu país que nunca deixou de o ser. Nasci, cresci e vivi lá".
Ulyana Pidhirna conta que sempre quis "fazer alguma coisa", e sendo enfermeira e médica, diz, "agora teria de ser dentro da minha área".
"Poderia também não ser. Podia ser outra ajuda qualquer. Agora que tenho estas potencialidades teria que ser dentro da área."
O curso foi coordenado pelo Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos e decorreu no Centro de Simulação Biomédica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
TSF\audio\2023\01\noticias\12\_marta_melo_curso_medicos_ucrania
Durante um dia, os 15 formandos participaram em vários exercícios de simulação de casos reais. Um deles foi o de um homem que tinha tido um acidente de mota e estava em condição instável. Tinha Covid-19 e tuberculose e uma fratura numa perna. Teria de ser transportado para um hospital central.
O objetivo era testar a tomada de decisões e de organização dos médicos, a quem caberá agora partilhar os conhecimentos com profissionais ucranianos para que possam melhorar a resposta das equipas de resposta rápida no atual contexto de guerra. Em meados de fevereiro, uma equipa poderá já deslocar-se à Ucrânia.
"Por mais cursos que tenhamos, um cenário de guerra é sempre um cenário de guerra. Por mais que queiramos vir melhor preparados, pode sempre acontecer o que é sempre menos esperado. Mas claro que o aumento de formação leva-nos a ter maior capacidade de saber reagir. Os cursos também têm muito esse sentido de saber que informação passar, como nós nos devemos comportar, também tivemos um curso nesse sentido. É tudo uma questão de adquirir mais e mais conhecimento", afirma Ulyana Pidhirna.
15643664
A acompanhar esta formação esteve o coordenador da Medicina de Catástrofe do Ministério da Saúde da Ucrânia, Vitaliy Krylyuk. "Queremos levar este curso para a Ucrânia, para o Centro de Simulação", afirmou.
Uma das suas missões era também "compreender qual o protocolo em Portugal usado" nestas situações. "Talvez possamos levar algo para o nosso sistema".
Com a guerra no país, que começou há quase um ano, Vitaliy Krylyuk nota que o número de transporte de doentes "aumentou muito" quando comparado com o período anterior. Esse transporte é também agora mais longo, podendo demorar "seis, sete ou oito horas".
"Recorremos a anestesiologistas e profissionais de outras especialidades, mas temos muitos médicos no serviço de emergência na Ucrânia que podem também assegurar este transporte".
Segundo Vitaliy Krylyuk um dos objetivos da Ucrânia é "aumentar o número de pessoas que podem transportar doentes".
Este curso foi coordenado por Vítor Almeida, do Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos, criado no início da guerra na Ucrânia. Em agosto uma equipa esteve no país e verificou que havia "necessidades na área da formação e harmonização do que é sobretudo o transporte do doente crítico".
Segundo Vítor Almeida, o transporte de doentes na Ucrânia não se cinge apenas a vítimas diretas da guerra, há também o "doente habitual que é gerido pelo hospital" e que são "doentes de cuidados intensivos, como até doentes de enfermarias, que têm de ser transportados e transferidos para outros hospitais".
"Os formandos acabam por aprender também a gestão e organização: como devemos organizar um transporte de um hospital para outro, quais são as medidas de segurança, como é que podemos garantir segurança e qualidade aos nossos utentes".