Fecho do Stop seria "mais gravoso do que compra e desmantelamento do Coliseu por parte da IURD"
Capicua, Pedro Abrunhosa e Adolfo Luxúria Canibal defendem, em declarações à TSF, que o centro comercial Stop é um "polo cultural ímpar na Europa".
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O centro comercial Stop, no Porto, viu a maioria dos seus estabelecimentos encerrarem por ordem municipal, deixando quase 500 artistas sem "ter para onde ir". Ana Fernandes, rapper portuense mais conhecida como Capicua, e o líder dos Mão Morta, Adolfo Luxúria Canibal, lamentam a decisão e falam num "polo cultural ímpar na Europa".
Admitindo que possam existir problemas de segurança que têm de ser acautelados, Capicua estranha as justificações dadas pela Câmara Municipal do Porto para o encerramento do estabelecimento.
"Acho um bocadinho bizarro que se fale em licenças de utilização quando estamos a falar de lojas. Toda a gente sabe que aqueles espaços não funcionam como lojas abertas ao público", explica, em declarações à TSF.
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Para a artista, este parece ser um "subterfúgio burocrático administrativo" para que as pessoas - que foram apanhadas de surpresa - "comecem a pensar em tirar as suas coisas, a arranjar alternativas e rapidamente se esvazie o espaço e, a partir daí, a Câmara ou a administração possa fechar o Stop de vez".
Ana Fernandes confessa não entender como é que o executivo camarário avança para o fim de uma instituição como o Stop sem ter uma solução para todos os músicos que ali trabalham.
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"Não arranjar uma solução coletiva para este final anunciado do Stop é, para mim, incompreensível, porque mostra uma insensibilidade enorme perante a importância que este espaço enquanto cluster cultural tem, não só no panorama da cidade, mas do país inteiro", considera.
A rapper defende que este local é "uma espécie de epicentro do panorama musical do Porto" e que o seu desaparecimento é preocupante.
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"Aquilo é um polo cultural ímpar na Europa porque eu não conheço outro projeto, outro local que tenha centenas de bandas a ensaiar porta com porta e a partir do qual se cria um movimento tão interessante de todos os géneros musicais. Não estamos a falar só dos ensaios, estamos a falar de estúdios e de uma série de outros pequenos serviços que se criam a partir desse networking. Essas pessoas todas vão ficar desalojadas e, inevitavelmente, fechando o Stop, o cluster desaparece e é isso que está aqui em casa", esclarece.
Adolfo Luxúria Canibal partilha a opinião e vai mais longe ao afirmar que o desaparecimento deste espaço é "mais gravoso do que aquilo que seria a compra e o desmantelamento do Coliseu por parte da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)".
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"Um exemplo paradigmático, pela sua dimensão e pela quantidade de gente que alberga, é o Centro Comercial Stop, de maneira que eu acho que será ainda mais gravoso para a cidade do Porto acabar com este viveiro que é o Stop, do que acabar com o coliseu há 10, 15 ou 20 anos", continua.
Para o artista, trata-se de uma questão "de vontade política e de apreciação política do valor daquele viveiro".
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"É que não há muitos exemplos na Europa de um espaço como aquele. É um caso único porque não conheço nenhum exemplo em que tudo é legal, em que as pessoas que ocupam o espaço não são ocupas, pagam rendas, aparentemente do lado deles está tudo legal. Politicamente parece-me uma aberração o que a Câmara Municipal do Porto está a fazer", defende.
Já Pedro Abrunhosa não duvida da legalidade dos despejos e não vê más intenções na atuação da Câmara do Porto, mas afirma, no entanto, que a comunidade de músicos à volta do Stop deve ser preservada e aponta três caminhos possíveis.
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O cantor português sublinha que a Casa da Música é subvencionada pelo Estado, pelo que seria necessário dotá-la "ainda mais" para que esta conseguisse proteger também estes artistas.
"A segunda hipótese é dotar rapidamente aquela comunidade artística de alguns recursos, mas para isso ela teria de se constituir juridicamente e eu não sei se isso está feito", acrescenta.
Abrunhosa coloca ainda a hipótese de realojar esta comunidade artística, lembrando uma proposta que chegou a estar em cima da mesa, que passava pela deslocação destes músicos para o Silo Auto. "Não sei se houve recusa ou alguma impossibilidade técnica que o permita, mas é sempre uma alternativa", remata.