O projeto solidário Dar Voz está a entregar smartphones a idosos em isolamento, depois da pandemia ter dificultado o contacto diário com família e vizinhos. Quem quiser doar um smartphone ou um tablet que já não usa pode consultar as instruções em darvoz.pt.
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Fernanda Barbosa, 89 anos, ainda está aprender a usar o smartphone. Recebeu o seu primeiro aparelho há poucas semanas para poder falar com a família e com a terapeuta mas nem sempre consegue atender a chamada à primeira. "Carrego aqui nesta bolinha?", pergunta. "Não dá. Agora já consegui".
"Eu atrapalho-me muito com isto. De vez em quando a doutora é que tem de me dar um jeitinho porque deixo de ver a figura", explica.
Sentada num banco no adro da Igreja Santo Condestável, em Campo de Ourique, Lisboa Fernanda Barbosa vai aprendendo a usar o telefone.
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Quando consegue ver a família que vive no Algarve, abre logo um sorriso. Antes falava por telefone. Agora consegue ver as bisnetas. "Já vi a minha bisneta mais nova, de 4 anos, e a outra de 14. São muito giras."
O smartphone foi entregue pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que se associou à iniciativa Dar Voz e baseia-se num gesto fácil: dar que já não se usa.
"O processo passa por a sociedade civil doar smartphones ou tablets, que tenha em casa, aqueles telefones que nós já não usamos mas que estejam com algumas condições", explica Filipa Neves da direção de intervenção de desenvolvimento de proximidade da Misericórdia.
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Depois são readaptados, recebem um cartão NOS, outro parceiro da iniciativa, e entregues a quem necessite deles. A Santa Casa já recebeu cerca de 60 telefones. Mais de 30 foram diretamente para os utentes para que não se sintam tão sozinhos. Foram doados a utentes mas também a todos os nossos centros de dia e a todos serviços de apoio domiciliário da instituição.
"O objetivo é minimizar o isolamento. Esta situação de pandemia, nomeadamente na população mais idosa, está a deixar marcar muito visíveis e temos que estar todos muito atento a isso. A saúde mental destas pessoas está a ficar comprometida", refere Filipa Neves.
Durante as semanas de confinamento, Fernanda Barbosa, deixou de ir ao centro de dia. Recebia entregas de comida da Santa Casa duas vezes por semana mas a maior parte do tempo estava sozinha.
"A pessoa estar em casa sem falar com pessoa nenhuma é um problema", afirma Fernanda mas o medo da Covid-19 é real. "Tenho sempre medo que esteja ao pé de alguém contagiado ou eu esteja e vá contagiar outra pessoa."
Filipa Neves considera que ver a família mesmo que através de um ecrã ajuda a combater o isolamento porque "a comunicação é também muito não-verbal. Às vezes um olhar, de parte a parte, um sorriso cúmplice é fundamental para a melhoria do bem-estar e da saúde psicológica deles".