
Ferro Rodrigues frisa que é preciso unir aqueles que defendem a reestruturação dos montantes da dívida. O ex-secretário geral do PS entende que já não basta uma alternância entre PS e PSD.
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Ferro Rodrigues defendeu hoje que um novo Governo deverá renegociar a reestruturação dos valores e dos prazos da dívida, tendo um consenso político «muitíssimo mais alargado» do que o tradicional quadro da alternância.
Esta posição foi defendida por Ferro Rodrigues nas Jornadas Parlamentares do PS, num discurso em que também acusou o Governo de «não se respeitar a si próprio» ao encomendar um relatório ao Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre cortes e de seguir uma política de «guerra social».
Mas na parte final da sua intervenção - período em que várias vezes bateu com o punho na mesa enquanto falava - Ferro Rodrigues deixou um recado para o interior do seu partido.
«Há que perceber que perante a eventualidade de uma crise política, essa crise política, quando vier, será muito diferente das anteriores por causa daquilo que se passou e, por isso, não basta a alternância [política], porque Portugal precisa de um consenso social e político muitíssimo mais alargado. Só com uma unidade nacional muito forte é que podemos se possível renegociar com a troika e se necessário incluir nessa renegociação alguma reestruturação dos valores e dos prazos da dívida», declarou o ex-líder do PS.
Na sua intervenção, Ferro Rodrigues acusou o Governo de tentar destruir o sistema público e de seguir uma via de «mínimos sociais», que foi suportada pelo recente relatório do FMI para cortes na despesa.
«Este Governo está a levar a cabo uma guerra social e de confrontação social, tentando pôr a classe média contra o Estado social. Todos os dias a conversa deles [Governo] é esta: Confrontação entre trabalhadores do setor público contra trabalhadores do privado; confrontação entre cidadãos ativos e aposentados; e até confrontação entre netos e filhos contra avós e pais, passando a ideia de que as pessoas com 80 ou 90 anos estão a impor aos pobres filhos e netos uma situação em que pagam mais impostos e terão menores pensões no futuro», sustentou.
Na perspetiva do ex-secretário-geral do PS, Portugal está neste momento a atravessar um Processo Revolucionário em Curso (PREC) de sinal político contrário.
«Estamos num momento decisivo, num PREC com um perigo diferente [face ao de 1975, porque está legitimado por resultados eleitorais e porque tem o apoio de agência internacionais muito poderosas, num contexto em que a Europa atravessa um período de confusão. Há que unir todos aqueles que não querem a continuação da espiral recessiva, todos os que não querem a destruição do Estado social - algo que atravessa várias áreas partidárias, pessoas inscritas e não inscritas em partidos», disse, numa nova alusão a entendimentos entre o PS e outras forças políticas.