O antigo presidente da Assembleia da República apresentou, esta segunda-feira, o livro "Assim vejo a minha vida - Memórias".
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Foi quase uma sessão solene da Assembleia da República, mas mudou o espaço, já que a apresentação do livro foi no Centro Cultural de Belém (CCB). Na primeira fila, o primeiro-ministro António Costa e, no púlpito, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Vários ministros e deputados socialistas marcaram presença na apresentação do livro de memórias de Eduardo Ferro Rodrigues. Curiosamente, num dia carregado de significado: há oito anos, tomava posse como presidente da Assembleia da República.
"Faz exatamente hoje oito anos que fui eleito, em voto secreto, presidente da Assembleia da República. Numas circunstâncias particularmente diferentes e particularmente difíceis", lembrou, naquele que foi o início da geringonça.
A eleição da segunda figura do Estado aconteceu dias antes de António Costa tomar posse como primeiro-ministro, apoiado pelos partidos à esquerda do PS. Apesar da vitória de Passos Coelho nas eleições legislativas de 2015.
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E foi, precisamente, o fim da geringonça, em 2021, que ditou o ponto final na carreira política de Ferro Rodrigues. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa foram dos primeiros a receber a novidade.
"Disse ao Presidente da República e ao primeiro-ministro, António Costa, que não contassem comigo. Era uma grande derrota que também senti como minha", admitiu.
Sobre o livro, o autor explica que "não é uma autobiografia", nem apenas sobre política. "É um exercício de memória", descreve Ferro Rodrigues, onde não faltam várias referências, "página sim, página não" ao clube do coração: o Sporting.
A apresentação do livro ficou a cargo de amigos de longa data, como o antigo ministro José Vieira da Silva ou Isabel Alçada. E também de Marcelo Rebelo de Sousa, uma amizade que começou aos 70 anos. E a data está presente na memória de ambos: 19 de março de 2018.
"Vejo o nosso querido amigo, Eduardo Ferro Rodrigues, a sair embolsado com um chapéu que não lhe conhecia e com um cachecol. Estava escuríssimo, era lua nova. Disse-lhe: podemos passear aqui. Pensei: o que é que terá acontecido em termos de segurança nacional para nos encontrarmos assim? Só faltou o primeiro-ministro", contou o Presidente da República.
Foi nesse passeio que Ferro Rodrigues contou a Marcelo Rebelo de Sousa que estava doente, o que o levou à mesa de operações por duas vezes, nos meses seguintes. O socialista assume que Marcelo "foi incansável", realçando a amizade entre ambos, "independentemente das divergências" políticas.
Marcelo nota que as amizades "também podem acontecer aos 70 anos" e nem o livro de memórias a coloca em causa, apesar das divergências políticas. "As memórias são de uma doçura, porque este nosso amigo tem um bom coração e é doce", acrescentou.
Doce, apesar da rigidez que o caracterizou enquanto político. Ferro Rodrigues foi secretário-geral do PS de 2002 a 2004. Esteve à frente da Assembleia da República, durante os tempos da geringonça.
Marcaram presença, no CCB, o primeiro-ministro, António Costa, os ministros Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, Pedro Adão e Silva e José Luís Carneiro e figuras do PS como João Cravinho, José Vera Jardim, Alberto Martins, Jorge Lacão, Ana Gomes.