Festas de Paredes de Coura não têm fogo de artifício há dez anos: "É um interesse maior que se deve sobrepor às tradições"
A situação de alerta foi alargada até à próxima quarta-feira e a pirotecnia nos arraias estão proibidos. O presidente da Câmara de Paredes de Coura diz à TSF que as autarquias têm o dever de dar o exemplo
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A situação de alerta está em vigor numa altura em que ao longo de todo o país multiplicam-se as festas populares. O fogo de artifício é muitas vezes protagonista dos arraiais de norte a sul, no entanto, com a situação de alerta, o recurso à pirotecnia fica proibido.
Em Paredes de Coura, milhares de pessoas chegam por estes dias ao município para as festas do concelho, que antecedem o festival de música. O presidente da Câmara de Paredes de Coura, Vítor Paulo Pereira, conta que a autarquia já está mais do que habituada às restrições. Aliás, o município decidiu acabar com o fogo de artifício há dez anos.
"Aconteceu que, em 2015, Paredes de Coura foi atingida por uma vaga de incêndios verdadeiramente dramática. Nessa altura, tínhamos o fogo de artifício e obviamente que, num contexto na altura de muito calor, acabámos por cancelar o fogo de artifício. E, depois, até nesse ano, de forma simbólica, para dizer que também estávamos comprometidos com a segurança e, como agentes de Proteção Civil devemos ter esse zelo e esse cuidado, o dinheiro do fogo de artifício foi doado aos bombeiros voluntários. Foi nesse contexto que decidimos tomar essas medidas e, a partir daí, nunca mais as festas do concelho tiveram fogo de artifício", conta Vítor Paulo Pereira à TSF.
E é esse o exemplo que Paredes de Coura quer dar: "Muitas pessoas aplaudiram a ideia. Obviamente que alguns setores ficaram descontentes, sobretudo o setor da pirotecnia, que emprega muitas pessoas. Mas achámos, nessa altura, que tínhamos de ser prudentes, porque não fazia sentido."
O autarca refere igualmente que a localidade "tem uma vasta área florestal" e, por isso, seria importante "dar um exemplo à comunidade". Até porque, "em Paredes de Coura, o fogo de artifício é lançado em contexto urbano, mas, se a Câmara Municipal não desse o exemplo, depois também haveria mais dificuldades em convencer os festeiros das festas populares que acontecem por todas as freguesias do concelho. E nessas freguesias existe uma envolvência florestal que torna a situação ainda mais perigosa".
Questionado sobre se as festas perdem brilho sem o fogo de artifício, o autarca de Paredes de Coura sublinha que a segurança é mais importante do que as tradições.
"O objetivo maior e o propósito maior é proteger as pessoas, os seus bens e até o património florestal. Isso é que é verdadeiramente importante e obviamente que isso deve sobrepor-se às tradições. Agora, também há um setor que emprega muitas pessoas, que muitas vezes não compreendem essas medidas, mas temos de arranjar um equilíbrio. Sinceramente, não sei que equilíbrio podemos fazer, mas na eventualidade de acontecer um incêndio de grandes proporções, que pode pôr uma localidade durante quatro ou cinco dias em alvoroço e fazer perigar a vida das pessoas e os seus bens, aí é um interesse maior que se deve sobrepor às tradições e às festividades", considera.
Na próxima semana, Paredes de Coura recebe o festival de verão ao qual dá nome. Apesar de o estado de alerta acabar antes do início do evento, os campistas chegam antes de quarta-feira e Vítor Paulo Pereira assegura que foram tomadas todas as medidas de segurança.
"O festival, para já, fica perto do rio. É feito um trabalho de Proteção Civil exemplar, com caminhos novos que foram construídos. Felizmente, também é uma área de amplo carvalhal, mas o carvalho e as espécies autóctones são muito mais resilientes ao fogo. Onde as pessoas acampam está tudo limpo, há corredores de segurança e extintores. Se nós não cuidarmos das condições iniciais de limpeza, de segurança, de vigilância, obviamente que a música nem faz sentido", afirma.
O Governo decidiu esta quinta-feira em Conselho de Ministros, renovar a situação de alerta no país até ao próximo dia 13 de agosto devido ao riso de incêndio florestal, avançou a ministra da Administração Interna.
Em conferência de imprensa realizada após a reunião do Conselho de Ministros, Maria Lúcia Amaral disse que o Governo decidiu renovar a situação de alerta, tendo como base dois motivos principais: a continuação de temperaturas elevadas em todo o país para os próximos dias e a diminuição de ignições devido às proibições determinadas.
