Com atores de boca tapada e o diabo à solta, companhia de teatro de Vila Real criticou o ainda ministro da Cultura numa iniciativa realizada, esta quarta-feira, no centro da cidade.
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A Filandorra assinalou o Dia Mundial do Teatro, esta quarta-feira, com uma iniciativa de protesto, em Vila Real, para chamar a atenção para as dificuldades com que se debate devido à falta de financiamento do Estado.
Apesar de se enquadrar na política de apoios da Direção-Geral das Artes, a companhia, com 37 anos de história, não recebeu qualquer ajuda para um período de quatro anos (2023-2026), o que está a criar dificuldades para manter os postos de trabalho.
Esta manhã, no centro da cidade, os atores, vestidos de negro e com a boca tapada, encenaram “O Cutelo de Adão”. Foi uma clara alusão aos cortes que o ministro Pedro Adão e Silva fez na atribuição dos apoios às companhias de teatro.
O diabo é figura central da encenação da Filandorra e vai passando pelos atores com um cutelo na mão, com gestos de quem corta cabeças. “Alguém disse na Assembleia da República que não vinha o diabo, mas veio um, que é o ministro Adão de cutelo na mão”, sublinhou diretor da Filandorra, David Carvalho.
Não entende como foi possível deixar o teatro sem apoio para que, agora, o país possa apresentar um excedente orçamental. “O ministro Adão é um grande mentiroso. Em Trás-os-Montes diz-se ‘é um grande aldrabão’, porque, afinal, havia dinheiro”, salientou, referindo-se ao excedente orçamental de 2023 que é o maior da história da democracia em Portugal, cifrando-se em 3193,5 milhões de euros.
“Deu-nos zero no nosso apoio sustentado, estando nós elegíveis, mas não houve dinheiro para apoiar o teatro em Trás-os-Montes”, insistiu o diretor da companhia, que, apesar de tudo, mantém a esperança, mesmo que esteja a ser difícil manter todos os postos de trabalho. Tinha “15 trabalhadores efetivos, mais
quatro colaboradores”, no entanto, tendo em conta o emagrecimento do orçamento, “seis deles foram embora”.
David Carvalho acrescentou que o último ano foi muito complicado para a companhia que teve de recorrer à banca para pagar o salário dos trabalhadores. Valeram-lhe, porém, os protocolos que mantém com 25 autarquias da região do Interior Norte, para conseguir manter-se em atividade.
