Pneumologista adianta que vai ser muito difícil atingir a imunidade de grupo, mesmo com as vacinas. Contudo, sublinha que só se a procurarmos será possível ficarmos muito melhor do que hoje.
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O pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19 afirma que "dificilmente voltaremos ao mundo antes da pandemia", mas "só tentando" é que poderemos chegar o mais próximo possível desse objetivo.
Vários especialistas têm alertado que a imunidade de grupo é um objetivo que pode ser impossível de alcançar e Filipe Froes admite à TSF que essa possibilidade existe.
No entanto, sublinha: "Não sabemos se é impossível, mas temos de tentar, pois só tentando é que lá poderemos chegar e, mesmo não conseguindo ter imunidade de grupo, uma coisa é certa: tendo uma percentagem significativa de pessoas vacinadas, vamos ter menos doença, mais normalidade e menos impacto social e económico da doença. Mesmo não atingindo a imunidade de grupo, temos o dever de a procurar".
Num artigo recente, a revista de ciência Nature apresenta cinco razões para a provável impossibilidade de alcançar a imunidade de grupo, a começar pelas incertezas que existem sobre a capacidade das vacinas para evitarem a transmissão da Covid-19 - mas não de evitarem o desenvolvimento de sintomas e especialmente de sintomas graves.
Depois, há as dificuldades de produzir rapidamente vacinas para distribuir por todo o mundo, que todos aceitem receber a vacina, o surgimento de novas variantes e as incertezas sobre o tempo que durará a imunidade de cada pessoa vacinada ou que já teve a infeção de forma natural.
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Filipe Froes confirma que "vai ser muito difícil atingir a imunidade de grupo, devido às dúvidas sobre o tempo da imunidade dada pela vacina ou pela infeção natural, as variantes que podem colocar em causa a imunidade e um aspeto essencial que é o facto de as crianças abaixo dos 18 anos não estarem vacinadas".
Uma rede mundial de vigilância, à semelhança da gripe
"Ter 70% da população vacinada não vai significar o regresso ao mundo antes da pandemia", admite o pneumologista, para quem "dificilmente voltaremos ao mundo antes da pandemia e teremos de incorporar no futuro muitas coisas que aprendemos ao longo desta pandemia".
Porém, Filipe Froes refere que, "certamente, poderemos voltar a uma vida mais próxima da normalidade e não nos podemos esquecer de que, com esta vacinação e esta proteção, também estamos a dar tempo para o desenvolvimento de outras abordagens e outros fármacos que tenham um impacto na resolução deste problema", nomeadamente medicamentos mais próximos de uma cura da doença provocada pelo coronavírus.
O coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos refere que "o mais provável é que a Covid-19 fique uma doença endémica à semelhança da gripe que reemerge sazonalmente, perdendo muitas das características de letalidade, ficando mais suave, mais ligeira, mas ainda assim com impacto".
Vale a pena "ponderar esse cenário, que pode passar, por exemplo, por uma nova rede mundial de vigilância, à semelhança do que já existe há mais de 50 anos para o vírus da gripe, e a possibilidade de vacinas periódicas", conclui.
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