Fixar uma temperatura máxima para trabalho ao ar livre? Médicos admitem debate "muito difícil"
No setor da construção civil, "pode haver situações de desmaio e até mortes".
Corpo do artigo
O risco de acidentes laborais aumenta até 7% quando os termómetros estão acima dos 30º C e até 15% quando ultrapassam os 38º C, de acordo com um estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas, será necessário estabelecer uma temperatura máxima para se trabalhar ao ar livre?
"Uma pergunta muito difícil de responder", considerou esta segunda-feira, à TSF, o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública Gustavo Tato Borges, sublinhando que estas temperaturas "são comuns" em Portugal.
"Será se calhar melhor pensarmos em termos de diferença para um valor médio, ou seja, termos 10º C acima de um valor médio para esta altura do ano para esta região, ou 8° C acima. Poderá ser uma indicação interessante, porque permitirá catalogar o risco e que os profissionais que mais trabalham expostos ao ar livre possam também ter uma noção de um risco aumentado e da necessidade de poder adaptar a sua realidade laboral", disse.
TSF\audio\2023\07\noticias\10\gustavo_tato_borges_1
Apesar de em Portugal ainda não se justificar definir um valor de risco, Gustavo Tato Borges lembrou que "a Direção-Geral da Saúde já tem há vários anos um programa nacional de saúde sazonal, que monitoriza os efeitos negativos de temperaturas muito baixas no inverno e muito altas no verão".
TSF\audio\2023\07\noticias\10\gustavo_tato_borges_2
O setor da construção civil é das profissões mais expostas ao sol e, por isso, a TSF contactou o presidente do Sindicato da Construção em Portugal Albano Ribeiro, que confirmou que o perigo é uma realidade, nomeadamente para quem trabalha para "patrões que pensam primeiro no lucro".
"Pode haver situações de desmaio e até mortes, disso não tenho dúvidas", sustentou.
TSF\audio\2023\07\noticias\10\albano_rodrigues
Segundo a Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, no espaço comunitário 38% dos trabalhadores do setor da construção estão expostos a temperaturas elevadas pelo menos um quarto do tempo laboral.
O verão do último ano foi o mais quente já registado na Europa, caracterizado por uma intensa série de ondas de calor que quebraram recordes de temperatura, seca e incêndios florestais.
*com Artur Carvalho e Gabriela Batista