A FLAD anuncia a programação comemorativa dos 40 anos, com “independência financeira” para celebrar o legado e dar ainda mais visibilidade à relação entre Portugal e os EUA. Morais Sarmento admite “impactos indiretos" das políticas da administração Trump num tempo de "turbulência". Mário Soares vai ser lembrado
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Celebrar o legado da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD) "ao longo de quatro décadas; reforçar os laços entre Portugal e os Estados Unidos em áreas como ciência, tecnologia, educação, cultura e desenvolvimento económico; promover o diálogo” e a colaboração entre os dois países em áreas de interesse comum, "como oceanos, a diáspora e a segurança”. Outro objetivo da programação coordenada por David Lopes, para assinalar os 40 anos da fundação fundada em 1985 e hoje apresentada à comunicação social, em Lisboa, passa por “continuar a dar visibilidade ao trabalho de investigadores, artistas e instituições que têm contribuído para o desenvolvimento de Portugal e para o fortalecimento das relações luso-americanas”. O mote geral são os "40 anos de compromisso: uma ponte sobre o oceano".
O presidente da FLAD, Nuno Morais Sarmento, não acredita que o momento disruptivo no relacionamento com os aliados europeus fruto de decisões e tarifas anunciadas pela Administração Trump venha a ter impacto na atividade da fundação a que preside, por nomeação do governo português. Garante que a FLAD tem uma “independência financeira” desde 1985 que lhe permite continuar a fazer o seu trabalho. Afirma que é importante “sermos surdos e cegos a essas alterações para não nos desfocarmos” da missão da FLAD, até porque, aquilo que acontece a partir de Washington, “são mudanças de políticas da Administração e não do país”, afirmou, explicando que a FLAD “manterá o caminho traçado sem vacilar".
O antigo governante e comentador político admite, contudo, “impactos indirectos”. Por exemplo, “uma instituição como Harvard”, atualmente com sérios problemas com o governo Trump, pode não conseguir desenvolver a relação que mantém com a FLAD, tal como “cerca de quarenta universidades dos EUA”. Questionado pela TSF sobre a possibilidade de a FLAD, dada a “independência financeira” que assume ter, a isso aliar uma autonomia política que possa compensar o desinvestimento do governo dos EUA nessas universidades e, se for o caso, financiar ainda mais a vinda de investigadores, Morais Sarmento foi taxativo: “Sem nos imiscuirmos nos assuntos internos dos EUA e dentro das nossas capacidades, com certeza e sem qualquer hesitação”.
O antigo Presidente da República Mário Soares, cujo centenário de nascimento está a ser assinalado, vai ser lembrado numa conferência, no próximo dia 27, organizada pela fundação em parceria com o Instituto Diplomático do MNE e cujo título remete para o ímpeto europeu e transatlântico de um dos pais da democracia portuguesa, por oposição ao obscurantismo da ditadura salazarista e marcelista. Assim, o colóquio a realizar ainda este mês, chamar-se-á “Orgulhosamente Acompanhados”.
A programação dos 40 anos da FLAD arranca no próximo dia 20, com uma conferência sobre os oceanos no Museu dos Coches, Breathing with the Ocean (Respirar com o Oceano) com o português Tiago Pitta e Cunha (uma autoridade internacional nesta matéria), membro da missão da União Europeia “Restore Our Ocean and Waters”, o irlandês Peter Heffernan e o americano Mark Spalding, presidente da Ocean Foundation. Seguir-se-á um concerto inspirado na obra "City of Glass" de Paul Auster, no Palácio Nacional da Ajuda. A obra já foi apresentada no ano passado no CCB. City of Glass é a primeira parte do romance The New York Trilogy do escritor norte-americano Paul Auster e o compositor Daniel Bernardes mergulha novamente no universo da música coral, numa parceria com o Coro Ricercare que já vem do disco Beethoven… Reminiscências.
A FLAD promoverá encontros, tendo a literatura como eixo e articulando-a com a economia (com o ex-ministro Álvaro Santos Pereira e Marcelo Estêvão, brasileiro-americano que nasceu no Brasil e trabalhou na Reserva Federal dos EUA), a diáspora e os oceanos, em encontros com a moderação de Ana Daniela Soares.
A 25, 26 e 27 de junho, em São Miguel, nos Açores: Sister Cities Summit, um encontro de cidades geminadas entre Portugal e os EUA, com exposição fotográfica sobre a diáspora açoriana e momentos culturais, incluindo fado e concerto da Orquestra Ligeira de Ponta Delgada e ainda a celebração dos 230 anos do Consulado dos EUA em São Miguel, o mais antigo da grande potência no exterior do país, em evento no Arquivo Regional açoriano, em Ponta Delgada. Isto numa altura em que pode estar em causa a continuação da existência do consulado, por decisão do governo Trump: “se tropeçarmos num consulado fechado, celebraremos a sua antiguidade e memória”, garantiu.
O 4 de julho, Independence Day, o dia da independência dos EUA, será assinalado pela luso-americana com o lançamento de um vinho Madeira, intitulado “FLAD 40 anos”. A 4 de julho de 1776, George Washington, após a assinatura da Declaração de Independência, brindou ao futuro com vinho da Madeira. A fundação continua a valorizar igualmente iniciativas que já fazem parte do seu calendário regular: o Legislators Dialogue (trazendo até Lisboa congressistas estaduais e nacionais de ambos os partidos dos EUA, republicano e democrata) a 30 de junho e 1 de julho, bem como o SIPN (Study in Portugal Network), que está a assinalar dez anos.
De 21 a 24 de julho será tempo de a FLAD dar a conhecer a Rede Internacional para o Desenvolvimento Relacional (coordenada por Rui Marques), antes de a programação ser retomada em Setembro com uma conferência de pendor mais geopolítica sobre o novo atlantismo, na Praia da Vitória, na Ilha Terceira, altura em que a formação Angra Jazz vai recriar o concerto de há 50 anos de Frank Sinatra, nos Açores.
A 11 Outubro "Amália na América - Além do Fado", na Broadway, marcando a estreia da Orquestra Sinfónica Portuguesa na capital nova-iorquina e logo numa das suas salas mais emblemáticas, o Carnegie Hall, numa atuação que contará igualmente com as presenças de Cristina Branco, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro.
Nos últimos meses das comemorações dos 40 anos, a FLAD atualizará o estudo sobre os luso-descendentes e transformará em podcast o livro do jornalista Ferreira Fernandes, Os Primos da América: luso-americanos e pioneiros numa relação especial. Para o final de meio ano de celebrações, será lançado um livro sobre a História da FLAD, que incluirá todos os que trabalharam na fundação desde 1985 e será prestado um tributo a todos os bolseiros da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.