Em contracorrente com o mundo, Portugal vai crescer mais do que o previsto, e com menos desemprego. Fundo alerta planeta para tensões comerciais e abrandamento na indústria para níveis de 2008.
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O PIB português vai crescer 1,9% em 2019 e 1,6% em 2020, acredita o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No relatório "World Economic Outlook", a instituição liderada por Kristalina Georgieva revê em alta ligeira a projeção feita em abril de 1,7% para este ano e 1,5% para o próximo mas não justifica a alteração.
A nova estimativa para o crescimento em 2019 é agora igual à do governo. Não se sabe se, no rascunho de Orçamento do Estado que vai entregar em Bruxelas, o executivo vai rever o quadro macroeconómico. Para o próximo ano, o FMI é mais pessimista que o ministério das Finanças: Mário Centeno adivinha uma repetição dos 1,9% previstos até dezembro.
Os peritos também não explicam a nova estimativa, marginalmente menor, da taxa de desemprego: o país deverá chegar ao final deste ano com 6,1% (6,2% nas últimas projeções feitas em julho) e a dezembro de 2020 com 5,6% (5,7% nos cálculos anteriores).
O Fundo faz também contas às reservas de ouro do país: Portugal tem em 2019 as mesmas 383 toneladas do metal precioso que tinha em 2010; a preços atuais elas valem 14,5 mil milhões de euros. Em 1980 havia quase o dobro das reservas (689). A tendência de redução é repetida por alguns países ocidentais, como o Reino Unido, ou a Holanda, mas contrariada por outros, como os Estados Unidos, a Alemanha, Itália ou França, que mantiveram ou aumentaram, ainda que de forma ligeira, as reservas.
O FMI explica que o declínio do papel do ouro nos bancos centrais nas economias avançadas foi largamente compensado nas reservas de países emergentes, e isso é visível em casos como a China, que passou de 398 toneladas em 1980 para 1900 toneladas em 2019. A Índia mais do que duplicou as reservas no mesmo período: passou de 267 toneladas para 613.
O abrandamento está a chegar
O Fundo Monetário Internacional escreve que depois de um abrandamento acentuado em 2018, o "ritmo da atividade económica global permanece fraco". "Em particular na indústria", lê-se no relatório, "caiu para níveis que não se viam desde a crise financeira global".
O FMI volta a repetir os avisos deixados nas últimas projeções: "o crescimento de tensões comerciais e geopolíticas aumentam a incerteza sobre o futuro do comércio global e da cooperação internacional, deixando marcas no ambiente de negócios e nas decisões de investimento". "As previsões", escreve o FMI, "permanecem precárias".
São estas as principais justificações do fundo para a revisão em baixa do crescimento global em 2019: em vez dos 3,2% previstos nas últimas estimativas, o planeta vai produzir mais 3%, "o nível mais baixo desde 2008-2009". No próximo ano o PIB mundial vai valorizar 3,4%, menos 0,1 pontos percentuais do que nas últimas projeções, feitas em julho (que por sua vez já constituíam uma revisão em baixa em relação aos cálculos anteriores, feitos em abril).
A zona euro também vai produzir riqueza a um ritmo menor do que o FMI julgava há três meses: em 2019 vai crescer 1,2% (menos 0,1 pontos percentuais) e no próximo ano sobe 1,4% (menos 0,2 p.p.).
O abrandamento pode ser justificado pela quase estagnação alemã: a economia germânica vai engordar apenas 0,5% em 2019 e 1,2% em 2020 (nas últimas estimativas: 0,7% e 1,7% respetivamente).
No que ao crescimento diz respeito, a China e a Índia continuarão a dar cartas, apesar de também desacelerarem: Pequim vai aumentar 6,1% em 2019 e 5,8% em 2020, enquanto Nova Deli valoriza 6,1% neste ano e 7,0% no próximo.
O FMI escreve que para aumentar a solidez económica, os agentes políticos devem resolver "as vulnerabilidades financeiras que colocam riscos de médio prazo". Os preitos entendem que "é essencial tornar o crescimento mais inclusivo".