"Foi a chegada do 25 de Abril aos concursos." Há 45 anos estreava "A Visita da Cornélia"
Foi há 45 anos que estreou o programa "A Visita da Cornélia". O concurso, emitido na RTP, foi um estrondoso sucesso televisivo, que até deu origem a uma revista semanal e a coleções de cromos.
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Estávamos em 1977. À segunda-feira, para grande parte dos portugueses, fazia parte do ritual ligar a televisão e ver Raul Solnado, acompanhado pela vaca Cornélia.
Todo o conceito - desde a direção musical à cenografia - terá sido criado pelo próprio Raul Solnado e por Fialho Gouveia, numa só noite. No concurso, os participantes tinham de cumprir provas, que iam desde o canto, a dança e o teatro a perguntas sobre a Constituição da República ou até mesmo o Código da Estrada.
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Um dos participantes que mais tempo passou no pódio da Cornélia foi José Fanha, que tinha 26 anos quando decidiu concorrer ao programa. "Estava muito chateado por estar suspenso na empresa onde trabalhava como arquiteto. E apetecia-me fazer qualquer coisa para me divertir", confessa à TSF.
"Concorria-se com um postal e um cupão que se cortava dos jornais e se colava lá. Eu mandei não sei quantos - centenas ou dezenas - para concorrer e o postal foi tirado", conta, com uma gargalhada.
Mal sabia, na altura, que aquele seria o concurso que haveria de torná-lo célebre. Para a história ficou a declamação, por José Fanha, do poema "Eu Sou Português Aqui".
"Foi um sucesso tão grande que saiu em tudo o que era revista! Foi muito engraçado", lembra.
O poema era uma ode ao 25 de Abril, que, afirma, José Fanha, correspondia ao espírito do programa. "Nós estávamos trancados. Foi um grito de liberdade: "''Bora dizer as coisas, 'bora cantar, 'bora dançar!". Digamos que a Cornélia é a chegada do 25 de Abril à ficção, ao concurso,... ao comum das pessoas.
Com Luís Sttau Monteiro, Raul Calado, Maria João Seixas, Paulo Renato e Maria Leonor no júri, e concorrentes que foram desde Fernando Assis Pacheco a Tozé Martinho, a Cornélia provou que Portugal era um país com talento.
"Foi um momento muito importante para mostrar que este país tinha valor e tinha pessoas que estavam escondidas", nota.
Escondidas haveriam de ficar também as gravações do concurso. Reza a lenda que a RTP gravou outros programas por cima das cassetes originais.
"A televisão apagou o programa todo. Na altura, não havia dinheiro para comprar cassetes, e eles andaram a apagar para gravar outras coisas", lamenta José Fanha.
As memórias ficam guardadas por aqueles que as viveram e por quem assistiu à Visita da Cornélia.