"Foi colocado em causa o profissionalismo." Maquinistas "revoltados" com declarações de Leitão Amaro
Na semana passada, o ministro da Presidência referiu que Portugal tem o segundo pior desempenho ao nível do número de acidentes ferroviários e anunciou a proibição de condução sob o efeito de álcool. Os maquinistas consideram aquelas afirmações "inaceitáveis" e apresentaram um pré-aviso de greve para 6 de dezembro
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O presidente do Sindicato dos Maquinistas afirma que há uma grande "revolta" entre os trabalhadores após as declarações do ministro da Presidência, na semana passada. Leitão Amaro referiu que Portugal "tem o segundo pior desempenho ao nível do número por quilómetro de ferrovia de acidentes que ocorrem" e "um desempenho cerca de sete vezes pior do que a primeira metade dos países europeus", explicando que o Governo aprovou uma proposta de lei que reforça "as medidas de contraordenação para os maquinistas deste transporte ferroviário, criando uma proibição de condução sob o efeito de álcool".
Em declarações à TSF, António Domingues considera que as afirmações de Leitão Amaro são "inaceitáveis". "Há uma revolta generalizada junto dos nossos associados, foi colocado em causa o seu profissionalismo. Eu acredito que o senhor ministro não tenha a noção do alcance das palavras, com certeza não quis fazer um ataque direto, mas aquilo que foi sugerido é inaceitável e as pessoas sentem-se revoltadas, por isso é que colocámos o pré-aviso de greve", explica.
O Sindicato dos Maquinistas convocou uma greve geral para 6 de dezembro. António Domingues sublinha que não podem ficar dúvidas no ar sobre o profissionalismo dos maquinistas e exige um esclarecimento por parte do ministro.
"Aquilo que não podemos aceitar é que fique esta dúvida no ar, junto da opinião pública e mesmo da comunicação social, em que, havendo essa ligação, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Os relatórios anuais de segurança do IMT são bem claros e estamos mal classificados, precisamente, por questões de infraestrutura, colhidas, atropelamentos, acidentes em passagens de nível e desmoronamento de barreiras na linha do Douro. São estas situações que impactam a má classificação de Portugal. Portanto, não podia ficar qualquer dúvida sobre esse aspeto. Demos oportunidade ao senhor ministro para clarificar aquilo que quis dizer e até o momento não o fez, nada mais nos restava a não ser o pré-aviso de greve", refere o sindicalista.
A greve é também motivada pela falta de condições de segurança. O presidente do sindicato dos maquinistas indica algumas das situações que precisam de ser resolvidas, nomeadamente na Linha do Douro. "Todos os anos, especialmente no inverno, há queda de obstáculos e pedras. No ano passado, houve um acidente grave em que um comboio chocou contra uma pedra, descarrilou, felizmente descarrilou para o sítio certo, se descarrilasse para o lado do rio, provavelmente o comboio iria parar ao rio Douro, seria uma tragédia. Portanto, aquilo que deve ser feito na linha do Douro é aquilo que foi feito na linha da Beira Baixa: um sistema de deteção de obstáculos que avise os maquinistas dos comboios que a linha está impedida com esse obstáculo", afirma.
"A IP deve sinalizar também as limitações de velocidade programadas, coisa que não o faz, o que induz em erro o maquinista e pode potenciar um acidente. Depois há outras situações, como descarrilamentos na Linha do Vouga, que deve ser recuperada rapidamente", acrescenta.
A greve está agendada para 6 de dezembro, mas pode ter impactos nos dias 5 e 7, nas sete empresas onde o sindicato dos maquinistas tem representação: CP - EPE, Fertagus, MTS - Metro do Sul do Tejo, ViaPorto, Captrain, Medway e IP -- Infraestruturas de Portugal.