Fósseis de animais com mais de 560 milhões de anos descobertos em Idanha-a-Nova
Carlos Neto de Carvalho, coordenador da equipa que encontrou os fósseis, não esconde a "emoção" sentida e destaca, em declarações à TSF, que os restos fossilizados de animais são dos "mais antigos a nível internacional".
Corpo do artigo
Uma equipa de cientistas descobriu em Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova, os fósseis de animais mais antigos encontrados em Portugal, com idade superior a 560 milhões de anos.
Em comunicado enviado à Lusa, o município de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, revelou que a descoberta foi feita por uma equipa de cientistas a trabalhar com o apoio da autarquia e coordenada por Carlos Neto de Carvalho, paleontólogo do Geopark Naturtejo.
TSF\audio\2023\09\noticias\01\rita_costa_fosseis_penha_garcia
"Os fósseis de animais mais antigos encontrados em Portugal foram agora descobertos nas proximidades de Penha Garcia. Idades obtidas nas proximidades do local onde foram encontrados os fósseis apontam para valores superiores a 560 milhões de anos".
Penha Garcia já era reconhecida pela comunidade científica internacional pela existência de fósseis de organismos marinhos que ali viveram há quase 480 milhões de anos.
"É sempre uma emoção encontrar alguns dos vestígios mais antigos de vida animal que se podem encontrar no registo fóssil mundial. Mesmo comparando com outros sítios pelo mundo fora, este é dos mais antigos a nível internacional e, sem dúvida nenhuma, aquele mais antigo que podemos encontrar em Portugal até à data", conta Carlos Neto de Carvalho, em declarações à TSF.
O novo sítio paleontológico foi descoberto nas proximidades da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe.
Os fósseis foram encontrados pelo paleontólogo italiano Andrea Baucon, no âmbito de uma investigação ainda em curso.
Até esta sexta-feira nunca tinham sido encontrados restos fossilizados de animais em rochas tão antigas.
"Correspondem a um período primordial da vida animal no planeta Terra, por isso é que estes sítios são extremamente importantes quando os encontramos. Contribuem para perceber como é que se deu a origem dos animais", explica Carlos Neto de Carvalho.
Não longe de Penha Garcia, já tinham sido descritos os fósseis mais antigos de Portugal, bactérias com dimensões de milésimas de milímetro, pelo geólogo António Sequeira.
Os fósseis agora encontrados ocorrem em rochas ainda mais antigas do que aquelas e serão, portanto, ainda mais antigos.
"São vestígios de animais primordiais que habitaram os oceanos daqueles tempos. Organismos com evidências de terem esqueleto, que lhes permitia moverem-se no interior dos sedimentos em busca de alimento", adianta.
O animal teria pouco menos de 10 milímetros de largura e deixou preservado nas rochas o seu trajeto, algo sinuoso, enquanto se alimentava de restos orgânicos contidos nos sedimentos.
"Estamos a falar de invertebrados e estamos a falar de organismos de pequena dimensão", afirma, defendendo, contudo, que se veem bem.
Esta marca de atividade biológica conhecida como icnofóssil permite entender o modo como este animal se alimentava.
"Sabemos que o organismo responsável pelo icnofóssil possuía um esqueleto rígido, algo que nos é indicado pela forma como penetrou e revolveu os sedimentos à medida que se deslocava com a intenção de procurar alimento, movendo-se para cima e para baixo, para o lado e para o outro - mobilidade, evidências de reação a estímulos nervosos e presença de esqueleto são critérios que melhor definem atividade animal", referiu Carlos Neto de Carvalho.
O Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO organiza uma nova campanha de investigação em Penha Garcia, enquanto cientistas do Museu de História Natural de Piacenza e da Universidade de Génova analisam a curiosa forma das estruturas já encontradas.