"Os jovens, a fé e o discernimento vocacional". É o tema do Sínodo dos Bispos que está a decorrer no Vaticano. Existe uma crise de fé e vocação? Qual o contributo do Papa Francisco ao abordar assuntos como a homossexualidade ou o casamento entre divorciados? Fomos procurar respostas.
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Encontrámo-nos na Universidade Católica do Porto. É lá que Rui Teixeira frequenta o mestrado em Ciências Religiosas. O agora estudante do ensino superior era há pouco mais de um ano, seminarista.
"Fui para o seminário por causa do meu percurso na igreja. Era e sou acólito era e sou catequista e sempre participei muito na vida religiosa da minha diocese".
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Rui tem 23 anos. Aos dezassete entrou num seminário, em Ermesinde. Estávamos em 2013. A Igreja católica via Bento XVI resignar, sucedendo-lhe Francisco. Dois Papas, duas referências, duas visões, mas para Rui Teixeira falar em dicotomia não faz sentido.
"Não é apropriado fazer esta divisão. São contributos diferentes, os de Bento XVI e de Francisco".
Conservadores de um lado, progressistas do outro. Rui Teixeira admite alguma divisão, mas divisão não significa rotura. O Sínodo dos Bispos sobre o tema "Os jovens, a fé e o discernimento vocacional" é disso exemplo.
"É importante trazer mais a público essa discussão. Não será, talvez, uma rotura com o que se fazia. Essas questões sempre foram alvo de reflexão. O Papa Francisco representa uma linha evolutiva".
Antes do Sínodo dos Bispos, a Igreja questionou os jovens sobre o tema em análise, através de um inquérito online, que recebeu milhares de respostas. O diagnóstico alerta para a necessidade de um novo discurso, de um diálogo mais aberto e franco, estruturas mais atrativas. Rui Teixeira participou no inquérito e subscreve estes alertas.
"A Igreja não pode viver cristalizada e ensimesmada".
Apesar de se identificar com as linhas do pontificado de Francisco, e do que estas perspetivam, Rui decidiu mudar de vida, para assumir uma relação a dois. Os 4 anos de seminário - primeiro em Ermesinde, depois no Porto - são um capítulo encerrado. Mas não de arrependimento.
Filipe Vales fez o percurso inverso ao de Rui Teixeira. Tem 26 anos. Frequenta o sexto ano do Seminário Maior do Porto, onde chegou com o curso de Economia concluído. Sentiu que o futuro só ficava completo com o sacerdócio. Com Rui, Filipe partilhas algumas referências. O Papa Francisco é inevitável.
"É importante encarar de frente os problemas. Há realidades que não podem ser ignoradas. O Papa Francisco tem procurado abertura".
Defensor de uma igreja em constante transformação e adaptação, Filipe Vales considera por isso oportuno, o Sínodo dedicado aos jovens.
Edgar Leite apresenta-se como seminarista de carreira. Com 24 anos, mantém firme a vontade de ser padre. Observa e acompanha o Sínodo sobre jovens, fé e vocação, com interesse e com expectativa de mudança.
"A Igreja não pode ficar centrada em si, deve acompanhar a realidade".
O carisma de Francisco é, para Edgar Leite, uma mais-valia para uma igreja que deve conjugar a história com os desafios do presente e do futuro.
"Ele não se limita. O Papa vai mais além".
Edgar e Filipe estudam no Seminário Maior do Porto, onde o padre Alfredo Costa é reitor. Diz que o tema do Sínodo foi uma surpresa, uma ousadia, bem-vinda.
"A Igreja tem tantas preocupações. É uma ousadia colocar este tema no centro das suas prioridades".
No documento de trabalho que está a servir de base à discussão no Sínodo, o Vaticano diz que o diálogo deve ser assumido como estilo e como método, concedendo aos jovens um protagonismo real. O padre Alfredo Costa concorda e considera inevitável.