No Alentejo mais preservado, que escapa aos circuitos turísticos da moda, há lugares mágicos em improváveis latitudes, onde a tenacidade e amor à terra conseguem vencer as barreiras do ostracismo e da interioridade. Na margem direita do Guadiana, a sul de Mértola, há um pescador que é um símbolo vivo da diversidade gastronómica da região.
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Em lugares improváveis, onde a paisagem deixa o olhar extasiado e o silêncio tranquiliza a mente, surge um restaurante que é sinal de vida onde o despovoamento é triste realidade.
Tão perto e tão longe do corre-corre frenético sazonal em busca dos areais algarvios, há um povoado ribeirinho de pequenas casas que se acotovelam sobranceiras ao rio Guadiana.
Para lá chegar, é necessário percorrer 12 km após Mértola, pela Nacional 122 e virar à esquerda, rumo a Penha da Águia. A monotonia paisagem desta parcela do Baixo Alentejo sulcada por estreita tira asfaltada, é entrecortada pelos cerros que tornam o horizonte ondulado e escondem, primeiro, Roncão de Cima e depois, Roncão do Meio, antes da descida até ao lugar onde, compensadores 8 km após a estrada nacional, a panorâmica faz arregalar os olhos e suster a respiração.
É a Penha da Águia.
Lá em baixo, dolente como o calor de fornalha que estiola os campos, o grande rio do sul beija o penhasco onde a águia morava, qual porta-aviões, uma verdadeira de base de surtidas compensadoras.
Na margem oposta, alguns (poucos) barcos de pesca e outras embarcações de recreio comprovam a navegabilidade de um rio onde os tresmalhos - artes de pesca - capturam muge, tainha ou fataça noutras latitudes -, saboga, barbo, enguia e, na época, sável e lampreia.
O local é considerado um santuário para saborear, a sul, o ciclóstomo, trazido até ali pelas marés atlânticas que se fazem sentir até ao Pulo do Lobo, alguns quilómetros a montante.
Varanda privilegiada sobre o rio, o restaurante O Pescador do Guadiana é um dos tais segredos bem guardados. Sobre as margens esvoaçam aves aquáticas e nas alturas, por vezes, avista-se a águia e um ou outro bufo real.
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O restaurante é uma construção moderna, com uma vasta sala interior com valência de café, cujo nome é uma homenagem de Sérgio Valente ao pai, de quem herdou o gosto por lançar as redes e aos pescadores do Guadiana, hoje em dia meia dúzia que não se deixa vencer pela descrença.
O peixe do rio, mesmo em anos de pouca fartura, é atração para os apreciadores. Ensopado de enguias; caldeirada; barbo no forno são algumas das especialidades, sem esquecer a lampreia, que Sofia, a esposa, cozinha em arroz, tal e qual a sogra, a Tia Otília fazia há 60 anos.
Outro capítulo são os pratos de caça, abundante por aqueles lados: durante too o ano há javali estufado e, na época, há coelho bravo frito; perdiz acerejada e lebre com feijão branco.
O cabrito assado no forno é outro manjar de eleição neste restaurante em pleno parque Natural do Vale do Guadiana. Os clássicos da gastronomia alentejana não podiam faltar nesta casa de bem comer, que exige encomenda prévia. Todavia, a proverbial hospitalidade alentejana não deixa de estômago vazio o viajante incauto: «arranja-se sempre qualquer coisa», tranquiliza Sérgio Valente atrás do balcão de O Pescador do Guadiana, onde os sabores de uma cozinha genuína se misturam com os cheiros e os sons de um lugar único. No concelho de Mértola.
Onde fica:
Localização: Penha da Águia Caixa Postal 3146, 7750-221
Telef.. 286 675 417 ; 967 747 320
GPS:
Latitude: 37°35'02.1"N
Longitude: 7°35'46.0"W