Sistemas podem fazer a diferença entre salvar a colheita ou perdê-la irremediavelmente, como aconteceu nos dois últimos anos. As manifestações decorrem esta quinta-feira em Macedo de Cavaleiros e Vila Flor.
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Esta quinta-feira há duas manifestações de agricultores no distrito de Bragança: uma na intersecção do IP2 com a A4, em Macedo de Cavaleiros, e outra nó do IC5 com o IP2, em Vila Flor. A ideia é cortar, ou pelo menos condicionar, o trânsito automóvel naquelas zonas.
Os agricultores transmontanos protestam contra os cortes nos apoios e reivindicam políticas nacionais e europeias que lhes permitam continuar uma atividade que lhes dá cada vez menos rendimento.
No protesto de Vila Flor participam também os fruticultores de Carrazeda de Ansiães, que exigem ao governo que viabilize a instalação de canhões antigranizo nos pomares. Estes sistemas que permitem desfazer as pedras de granizo antes de chegarem ao solo já funcionam em pomares de Armamar e Moimenta da Beira e têm-se revelado eficazes.
Os canhões disparam para o ar, de sete em sete segundos, uma onda de choque que vai atingir a nuvem que potencialmente pode descarregar granizo. A onda parte as pedras de gelo que chegam ao solo com menor diâmetro ou em forma de pingas de água. Cada canhão pode proteger cerca de 80 hectares.
Em Carrazeda de Ansiães ainda não os há e os agricultores desesperam. Primeiro, porque as últimas duas colheitas de maçã foram arrasadas por intempéries com granizo. Segundo, porque medida já foi prometida pelo Governo, depois de aprovada na Assembleia da República, por proposta do grupo parlamentar do PS.
Ora, “se a medida foi aceite, unanimemente, por todos os grupos parlamentares, dotada de verbas para ser implementada”, o fruticultor de Carrazeda, envolvido na organização dos protestos desta quinta-feira, Luís Vila Real, diz “não compreender” porque é que, apesar de o governo estar em gestão, “não se abram as candidaturas”.
O agricultor não aceita “uma resistência, uma cobardia política que impede a implementação” da medida de apoio à instalação de canhões antigranizo. “Não podemos aceitar este sonambulismo político que põe em causa as nossas produções e nos deixa entregues à nossa sorte”.
Só em 2023, as perdas atingiram cerca de 90% da área de pomar de Carrazeda de Ansiães, ou seja, 500 hectares. As quebras de produção em vários deles rondaram “entre 95% e 98%”. Em termos financeiros, representou um prejuízo “na ordem dos 10 milhões de euros”, segundo contas feitas na altura pela Associação de Fruticultores e Viticultores do Planalto de Ansiães. O concelho produz entre 25 a 30 mil toneladas de maçã de qualidade por ano.
Luís Vila Real é apenas um entre muitos fruticultores que não querem voltar a passar por calamidades resultantes da cada vez mais frequente queda intensa de granizo, como aconteceu nos últimos dois anos. Vinca que “se têm o azar de novamente serem contemplados com um novo fenómeno meteorológico, será a ruína de toda a gente e não terá a mínima hipótese de sobreviver”. É que “os custos de produção são os mesmos e o rendimento é de 10% a 20%”, dependendo da destruição.
Luís Vila Real acrescenta que se a medida fosse rapidamente desbloqueada, ainda seria possível instalar os canhões antigranizo a tempo de proteger a próxima campanha agrícola.
Para a reivindicar, os fruticultores de Carrazeda vão em peso participar numa das duas manifestações, esta quinta-feira de manhã, nos concelhos de Vila Flor e Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança.
