A coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia sublinha, no entanto, que as imagens chocantes que apareceram há cinco anos nos maços de tabaco têm um efeito a longo prazo.
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Os maços de tabaco começaram a ser vendidos com imagens agressivas há cinco anos. Se no início existiam pessoas que pediam uma embalagem com uma figura mais simpática, atualmente essas solicitações são raras e há quem diga que tem vendido cada vez mais tabaco. Os fumadores adaptaram-se aos novos rótulos e poucas são as pessoas que mudaram os hábitos de consumo. No entanto, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia indica que o número de fumadores tem vindo a diminuir em Portugal.
Preocupada com a saúde, Helena Santos está de cigarro na mão depois de ter feito um exame aos pulmões. Ainda não chegou aos 60 anos de idade e já fuma há 30 anos, mas desde 2016 que tem uma relação diferente com os maços de tabaco, tudo por causa das imagens que lá vêm estampadas e que prefere não olhar.
Helena Santos não faz parte do pequeno grupo de fumadores que tenta escolher um maço de tabaco com uma imagem menos agressiva. Apesar do choque inicial, o comerciante Abílio Fernandes - proprietário de um quiosque centenário na cidade do Porto - considera que o impacto das embalagens foi-se esfumando com o tempo. "Hoje, 99% dos clientes não ligam às imagens", denota.
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A mesma perceção tem Manuela Carvalheira, funcionária de outra tabacaria, que afirma que a estratégia "foi uma maneira de mudar a embalagem, mas as pessoas continuam na mesma a fumar". A comerciante assegura também que são poucas as pessoas que fazem questão de pedir um maço com uma imagem menos agressiva.
Tão poucas que é difícil encontrar quem escolha. Aos 80 anos, Joaquim Gil passou muito mais de metade da vida com um cigarro na mão. À imagem do avô que consumia uma onça de tabaco por dia, fuma desde a adolescência e nunca prestou atenção às imagens que vêm nos maços, mas sim à marca.
A venda de tabaco continua a ser o sustento de várias pessoas e nem as imagens chocantes ou o preço dos maços tem diminuído a procura. Abílio Fernandes adianta que, no estabelecimento onde trabalha, "vendem-se muitos mais cigarros do que há cinco anos" e para isso contribuem os jovens fumadores, diz o comerciante.
Apesar da perceção de que as imagens nos maços de tabaco não inibem as pessoas de fumar, a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia diz que o número de fumadores tem vindo a diminuir.
Paula Rosa considera que essa redução está relacionada com uma conjugação de estratégias - que incluem as figuras nos rótulos, o aumento de preço do tabaco e as consultas para deixar de fumar - e sublinha que as imagens chocantes têm um efeito a longo prazo: "Não estamos à espera que uma pessoa que está dependente de uma substância, só porque vê uma imagem, pare imediatamente de fumar."
A coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia alerta que, neste momento, uma das maiores preocupações prende-se com os jovens, que têm fumado mais, utilizando cigarros eletrónicos "com a ideia de que seria uma coisa diferente de fumar, mas na verdade tem o mesmo risco".