A equipa da Universidade de Coimbra está a estudar o papel do sistema imunitário na doença de Parkinson. A TSF conversou com a coordenadora da investigação.
Corpo do artigo
Foi há dois anos, a 15 de julho de 2011, que Margarida Carneiro arriscou. Depois de várias conversas com os colegas da Universidade de Coimbra (UC), decidiu enviar a carta para os Estados Unidos, dirigida à Fundação Michael J. Fox.
Margarida Carneiro é investigadora da Universidade de Coimbra e dirige uma equipa que está a estudar, através do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), da Faculdade de Medicina (FMUC) e do Centro Hospitalar e Universitário (CHUC), a forma como o sistema imunitário contribui para a agravamento da doença de Parkinson, produzindo anti-corpos que se alojam no cérebro.
Numa nota de imprensa, a UC explica que é a primeira vez que está a ser estudada «a intervenção do sistema imunitário, mais especificamente as implicações de mutações genéticas nos linfócitos B, na doença de Parkinson».
«Os linfócitos B (ou células B) são células do sistema imunitário com uma dupla função: produzem anticorpos contra os agentes causadores de doenças e participam na regulação da resposta imunitária através da interação com outras células. No entanto, quando sofrem mutações genéticas, as suas funções podem ser afetadas, passando os linfócitos B a ter um papel importante no agravamento da doença», esclarece a nota.
A Universidade de Coimbra diz que a equipa de investigadores focou-se no estudo da «mutação do gene LRRK2 (envolvida na comunicação dos linfócitos B e com outras células), encontrada em pacientes com a doença de Parkinson».
Numa primeira fase, adianta a Universidade, através da análise de amostras de sangue de doentes de Parkinson, com e sem a mutação, e de voluntários saudáveis, descobriu-se que «a mutação parece estimular a morte precoce das células B, dificultando a sua comunicação com outras células do sistema imunitário».
«Verificámos também que a mutação do gene faz com que as células B produzam anticorpos autorreativos contra uma proteína do sistema nervoso central - a alfa-sinucleína (proteína que ajuda na estabilização estrutural dos neurónios), tornando as estruturas do sistema nervoso como alvos a abater».
A mutação das LRRK2, nota a UC, «afeta um conjunto de células e os linfócitos B deixam de cumprir a sua missão, passando a contribuir para a destruição do cérebro».
«Ao entender como tudo se passa, podemos avançar para o desenvolvimento de terapias capazes de destruir os linfócitos desregulados, permitindo, assim, desacelerar a progressão da doença de Parkinson».
A resposta da fundação do ator, que padece de Parkinson, era incerta, mas Margarida Carneiro estava optimista. Agora que conseguiu o apoio de 250 mil dólares (192 mil euros) espera que a investigação dê origem à criação de um novo fármaco.