"Futuro ao improviso." Marta Temido com "enorme preocupação" perante lei de emergência sanitária que ainda não saiu do papel
Marta Temido alerta que as lições da pandemia não foram aprendidas e pede mais atenção ao tema da saúde, tanto em Portugal como na União Europeia. Já Álvaro Almeida, diretor-executivo do SNS, considera que o país está hoje mais capacitado para lidar com futuras pandemias
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Passados cinco anos desde a declaração do primeiro estado de emergência em Portugal por causa da pandemia de Covid-19, Marta Temido assume que é com um sentimento agridoce que olha para a data. "É um misto de sentimentos, por um lado porque ultrapassámos um momento tão difícil, mas, por outro lado, também devemos recordar as vidas que se perderam, os sacrifícios pessoais e financeiros", refere a antiga ministra da Saúde.
Marta Temido lamenta, no entanto, que estes cinco anos não tenham servido para tirar ilações. "Há aspetos que poderíamos ter aprendido com a pandemia, mas não aconteceu", afirma a antiga governante que dá como exemplo a lei de emergência sanitária. O instrumento, pensado logo após a pandemia, deveria servir para coordenar a resposta a futuras pandemias, mas nunca saiu do papel. "Causa-me uma enorme preocupação, para não dizer estupefação", admite.
A antiga ministra da Saúde e um dos principais rostos da pandemia defende que "há da parte do legislador uma incompreensão para a sensibilidade destes momentos e para as circunstâncias em que o decisor tem de tomar opções em momentos excecionais".
"Estamos a deixar o futuro ao improviso", avisa. Marta Temida sublinha, contudo, que não é um problema apenas de Portugal. A atual eurodeputada lamenta o esquecimento da União Europeia em relação aos temas da saúde.
"Infelizmente também outras crises se sobrepuseram aos temas da saúde, mas isso não deveria fazer-nos esquecer aquilo que os cidadãos nos dizem que é que a saúde é uma das suas principais preocupações", declara.
Já o atual diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Álvaro Almeida, considera que o país está preparado para futuras pandemias. O responsável acredita que a lei de emergência sanitária faz falta, mas não é "crucial". "Com certeza que seria melhor se já tivéssemos todos os instrumentos necessários, mas não me parece que seja essencial. Aquilo que é essencial é saber se o sistema de saúde está melhor preparado para enfrentar uma situação de emergência como a que sofremos há cinco anos. E desse ponto de vista penso que sim", defende o diretor-executivo do SNS.
Álvaro Almeida afirma que o SNS é hoje um serviço mais "resiliente" do que em 2020.