Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto visitaram os mais velhos de Alijó e ajudaram a recuperar a casa de uma família carenciada.
Corpo do artigo
Sandra Carril nem queria acreditar quando lhe disseram que alguns estudantes de Medicina na Universidade do Porto lhe iriam entrar pela porta dentro, em Pegarinhos, Alijó, para lhe arrumarem e pintarem a casa. O imóvel há muito que precisava de obras, mas o marido, mesmo sendo operário da construção civil, sofre de cancro e trabalhar tornou-se cada vez mais difícil. O casal, sem emprego, com um filho de 11 anos, vivia em condições a necessitar de atenção.
A empreitada durou uma semana. A Câmara Municipal de Alijó e a Junta de Freguesia de Pegarinhos contribuíram com os materiais, a associação "Just a Change" e voluntários locais também deram o seu apoio, e os estudantes de Medicina ofereceram a mão-de-obra.
TSF\audio\2022\04\noticias\04\eduardo_pinto
"Organizámos melhor os quartos, melhorámos o isolamento térmico, pintámos portas e paredes, e fizemos a triagem de coisas que ocupavam espaço mas que não eram necessárias", explicou Rafael Castro, um dos futuros médicos.
No final dos trabalhos, Sandra Carril, de 44 anos, ficou contente com o resultado. Contou que há muito que andava a pedir ao marido para "dar uma pintura a isto", mas, há cerca de um ano, "apareceu-lhe um cancro na laringe" e a situação ficou "muito complicada". Após esta ação solidária, ficou "muito agradecida" a todos quantos se envolveram nela.
Projeto católico
Os cerca de 50 estudantes que passaram uma semana no concelho de Alijó estudam Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Fazem parte do projeto universitário e católico "Missão País", em que todos saem a ganhar. Os mais velhos têm companhia durante algumas horas, enquanto os futuros médicos ganham experiência com o contacto social.
"Eles também vão lidar com idosos quando estiverem a exercer, por isso vão aprendendo a lidar com eles", referiu Valentina Martins, de 67 anos, que recebeu um grupo em casa, em Santa Eugénia. O marido de Valentina não perdeu tempo e foi buscar bolinhos e "vinho fino". Para Manuel Fernando Martins, 69 anos, é com "toda a satisfação" que recebe gente em casa. E "podem voltar quando quiserem", porque "é sempre bom poder dividir o vinho", sorriu.
Depois de um bom quarto de hora de conversa e algumas risadas, rezou-se. É que na "Missão País", como projeto universitário e católico, os jovens levam a casa das pessoas uma imagem da "Mãe Peregrina". No final, despediram-se e em casa ficou um bom sentimento de satisfação pela visita.
"É muito gratificante, as pessoas são muito recetivas, convidam-nos sempre para entrar e dão um lanchinho", admitiu Beatriz Silva, estudante de Medicina de 5.º ano. Está convencida que este contacto vai "melhorar as capacidades sociais" dos futuros médicos.
Mensagem de alegria
Os estudantes caíram bem à população e, por exemplo, no final das obras em Pegarinhos, tiveram uma surpresa da moradora Manuela Ferreira, que lhes levou "um docinho e vinho moscatel". Um "miminho" para agradecer a visita. "Às vezes sentimo-nos sozinhas. É muito bom falar com estes jovens e desabafar um pouco. Eles dão alegria à aldeia, que já tem muitas pessoas idosas", explicou.
É isto que José Paredes, presidente da Câmara de Alijó, valoriza na "Missão País". Porque depois de dois anos "tão difíceis" devido à pandemia de Covid-19, "é importante que estes jovens tragam uma mensagem de alegria, fé e esperança aos nossos idosos". Os futuros médicos hão de voltar ao concelho mais uma semana em 2023 e outra em 2024.