Gabriel e Carlão "com a galera vibrante do Crato"
Os dois já foram felizes aqui. "Temos muitas razões para sorrir", disseram, lembrando outras noites deste festival. Gabriel O Pensador convidou o amigo Carlão, como quem "Assobia para o Lado", num concerto, mais um da tournée do "Quebra-Cabeça", álbum que celebra agora 25 anos, mas cujas letras permanecem talhadas para muito do que se vive no Brasil: "A música é uma grande ferramenta para buscar mudança, questionar e protestar. No Brasil e no mundo."
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"Solta o bicho, quero cantar essa música." Quando Gabriel chamou Carlão para o palco, já o concerto ia embalado na "maresia do Crato" que trouxe à vila do Alto Alentejo os sucessos de um Quebra Cabeça - o álbum de 97- com o público a cantar e a dançar temas como o icónico "2345meia78/Tá na hora de molhar o biscoito..."
Carlão cantou, pulou e assobiou para o lado, mas também falou. "Pensem nisto: vocês gostam tanto e aplaudem os brasileiros como o Gabriel quando sobem ao palco ou como os jogadores de futebol que estão nas equipas portuguesas, têm de bater palmas em todo o sítio, no supermercado, na rua, em todo o sítio."
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Passada a mensagem aplaudida no momento, (e a noite tinha começado com o cabo-verdiano Dino d'Santiago), os dois deram o peito à música, celebrando em palco o reencontro de dois amigos com o público, após a paragem forçada pela pandemia. Carlão fez vénias ao "homem responsável pelo facto de os portugueses começarem a aceitar a música cantada em português", e Gabriel já tinha prometido antes "que a noite trazia bons motivos para sorrir."
Nas breves declarações à TSF, a cinco minutos da hora marcada para o concerto - pouco depois da meia-noite -, deram-se uns toques na campanha brasileira para as eleições de outubro e na situação de um país que continua a ser um Quebra-Cabeça.
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"Hoje eu tô feliz/Matei o Presidente!"
A primeira música do alinhamento da noite estava a pedi-las. Escrita em 2017, e inspirada na figura do antigo presidente Fernando Collor de Melo, a letra sugestiva foi a deixa para perceber se estaria Gabriel já a pensar também nas eleições de outubro: "Essa música serve para vários Presidentes, infelizmente."
"É um desabafo bem sincero, porque a gente tem de lutar pela democracia sempre, procurar dentro das opções o menos pior, às vezes, mas não pode é ser fã de político, como o brasileiro muitas vezes trata os políticos - como ídolos - e torce como se fossem torcidas de futebol, e isso está muito errado. É uma idolatria cega, e então a gente ainda tem muito caminho aí para exercer a cidadania, não só no dia das eleições, mas cobrando dos políticos durante os mandatos."
Olhando e cantando letras lá de trás, dos primeiros álbuns, Gabriel O Pensador reflecte sobre a actualidade que persiste: "O Brasil e o mundo, eles quebram a nossa cabeça e o nosso espírito muitas vezes. A gente tenta se inspirar e traduzir as nossas emoções, mas a música é uma grande ferramenta para buscar mudança e para questionar e protestar e não só no Brasil. Tem problemas crónicas que continuam actuais."
