Embarcação está parada à espera de condições para atracar na margem galega. Pequenas embarcações asseguram travessia do rio Minho de forma aleatória.
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A 'Portos de Galicia', a entidade pública com competência nos 122 portos dependentes da Junta da Galiza, garantiu esta sexta-feira, que o cais galego do ferry-boat entre Caminha e A Guarda, deve estar operacional em julho.
Questionada pela TSF, aquela entidade adiantou que a estrutura portuária de A Pasaxe, em A Guarda, apresentava "corrosão extrema" e está, neste momento, em reparação, numa intervenção no valor de 580 mil euros. "Estimamos que possa estar ao serviço ao longo do mês de julho", informou.
O ferry-boat Santa Rita de Cássia está atracado no cais em Caminha há quase dois anos devido à falta de condições de segurança da infraestrutura portuária da margem espanhola.
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"Retiraram-se o pantalan [doca] e a rampa de acesso. Ambos elementos fortemente deteriorados, foram transportados para um estaleiro para sua recuperação.
"Os trabalhos começaram pela rampa, que assim que esteja reparada, será reinstalada com um pantalan provisório, enquanto se repara o definitivo", informa a entidade galega, referindo "uma vez concluído trabalho será reinstalado o patanlan reparado com acesso pela rampa".
No município de A Guarda, o alcalde afirma não estar informado e, por isso, não arrisca dizer que vai ser cumprida a expetativa de que o ferry vai voltar à atividade já este no verão.
"Não me atrevo a dizer nada. Creio que nos deviam informar, tanto à câmara de Caminha como o concelho de A Guarda, mas não nos têm informado sobre este assunto", afirma o alcalde de A Guarda (Galiza), António Lomba, que já em 2020 pressionava, juntamente com o seu homólogo de Caminha, a entidade competente para solucionar o problema, e que lamenta que aquela travessia do rio Minho se encontre votada "ao abandono".
"A partir do meu segundo mandato, em 2020, começamos a ficar realmente preocupados porque havia falta de manutenção do cais e a Portos de Galicia não respondia aos nossos requerimentos. Além de levantar problemas, não apresentava soluções", recorda, referindo que, em 2021, foi tomada a decisão pelo então autarca de Caminha, Miguel Alves, de suspender a ligação fluvial porque a estrutura portuária de A Pasaxe, em A Guarda, "não oferecia segurança para os veículos".
"Isto é uma irresponsabilidade por parte da Junta da Galiza, porque o ferry esteve parado em dois anos Jacobeu, 2021 e 2022, e este ano o caminho português está no auge, é que mais tem aumentado o número de peregrinos, cerca 136 por cento, e falta-nos o meio de transporte mais importante que é o ferry-boat", refere o alcalde, que esta sexta-feira, deixa o cargo. Perdeu as eleições municipais em Espanha no final de maio, após ter cumprido dois mandatos. Contactada a câmara de Caminha, não deu qualquer resposta sobre o assunto.
Entretanto, a travessia do Minho, cada vez mais procurada por peregrinos, está a ser garantida por uma pequena embarcação da Junta da Galiza (Xacobeo Transfer), mas que funciona apenas por reserva na Internet, e por barcos particulares portugueses. Os peregrinos chegam continuamente às duas margens e nem sempre têm quem os informe, principalmente do lado galego, onde o posto de receção e cafetaria estão encerrados. Do lado português, está a funcionar o bar do ferry.
"Ala para as américas", brinca com o entusiamo de um descobridor, o espanhol Pedro Gordovil, após embarcar em Caminha, num táxi-mar, com destino a A Guarda.
Pedro é de Bilbao, tem 73 anos e está a percorrer o caminho português da costa até Santiago de Compostela, na companhia do amigo Teo Padilha, de 69, natural das Astúrias. Saíram do Porto, para percorrer o caminho português da costa, após já terem cumprido o Francês, o do Norte e o Primitivo. Procuram liberdade, amizade e novos desafios.
"Queremos conhecer novas amizades", conta Teo. E Pedro completa: "Liberdade e também provar que ainda se é capaz [apesar da idade] de andar pelo mundo com uma certa dignidade ou não".
Quando chegaram a Caminha, os dois amigos peregrinos escolheram atravessar o rio Minho de barco. Mas ficaram a saber que o ferry-boat está parado há 2 anos, por causa de obras no cais do galego.
"Ou seja, o ferry está parado por culpa dos galegos? 'Bueno hombre', há que pôr isto em ordem", brinca Pedro.
À falta de ferry-boat, os peregrinos espanhóis Pedro e Teo embarcaram no táxi-mar do operador Marco Valadares, que também toma conta do bar de apoio no cais português. E reclama: "O ferry faz muita falta, aqui para o próprio estabelecimento e para o comércio em geral". Considera que "não era muito difícil pôr a embarcação a trabalhar" e que, mesmo que esta regresse às travessia, "há lugar para todos", incluindo para as pequenas embarcações que agora garantem o transporte dos turistas. Principalmente peregrinos de Santiago.
Mesmo sem ferry-boat, Pedro e Teo alegram-se com a viagem que fizeram num barco pequeno entre Caminha e A Guarda. E pela qual pagaram 6 euros (os preços do ferry-boat eram de 1,5 passageiro e 3,50 euros automóvel).
"É muito bonita. Preciosa. Está muito bem", comentam, enquanto se despedem do homem táxi-mar que os ajuda a desembarcar num cais antigo, coberto de lodo, e lhes deseja "buen camino".