Geladas no inverno e quentes no verão. Na energia, casas portuguesas são das mais pobres da Europa
Portugal é o quarto país europeu com o maior nível de pobreza energética. A conclusão é apontada no primeiro estudo à escala europeia sobre o problema, realizado pela consultora Open Exp.
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O estudo da Open Exp indica que os países do Sul e Leste Europeu são os mais afetados pela pobreza energética, revelando um "peso elevado das faturas energéticas no orçamento doméstico", "incapacidade para manter as habitações quentes durante o inverno" e "frescas durante o verão" e ainda "níveis elevados de humidade e fugas nas coberturas".
Os países foram classificados por níveis de pobreza energética: extremo, muito alto, alto ou moderadamente alto. Portugal fica em quarto lugar entre os piores classificados, com um nível "muito alto" de pobreza energética.
A associação ambientalista Zero, parceira na divulgação do estudo, sublinha que há muito trabalho a fazer: "Somos dos países onde se verifica um pior isolamento das habitações e que acaba por não conseguir manter as temperaturas ideais durante as estações extremas. Morre-se de frio durante o inverno (..) e no verão não temos capacidade de arrefecimento", disse Francisco Ferreira, presidente da Zero, em declarações à TSF.
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A análise revela que o peso da fatura energética no orçamento doméstico está a aumentar na Europa, e que os fatores socioeconómicos das famílias têm um papel mais determinante no problema do que as condições meteorológicas.
"Compra-se um aquecedor a óleo, que é a operação mais barata para lidar com o frio do inverno, mas este consome imensa eletricidade", exemplifica Francisco Ferreira, constatando que grande parte das famílias acaba por "restringir ao máximo o uso [do aquecedor]", mediante a alta fatura que paga.
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O estudo conclui também que os Estados que têm regulamentos exigentes sobre reabilitação de edifícios e produto interno bruto (PIB) per capita mais elevado têm níveis mais baixos de pobreza energética, existindo uma clara diferença entre os países do Norte/Oeste Europeu e do Sul/Leste Europeu.
O país europeu com a maior pobreza energética é a Bulgária. No lado oposto da tabela, estão a Suécia e a Finlândia, que apresentam o nível mais baixo de pobreza energética.
O estudo aponta o dedo aos decisores políticos da União Europeia, pela sua inação, não tendo apostado num programa europeu para melhoria do isolamento térmico e eficiência energética dos edifícios.
"Deveríamos ter apoios do Estado para as famílias de menores recursos e para parte da classe média", defende a associação Zero.
Ana Horta, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, diz que será necessário "um investimento público muito grande" na recuperação dos edifícios portugueses, uma vez que a maior parte destes "não tem qualquer espécie de isolamento". "Foram construídos numa altura em que não havia nenhum regulamento em que existisse uma preocupação com o conforto térmico", esclarece.
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As estimativas da Organização Mundial de Saúde apontam para que as condições inadequadas de habitação, como a exposição crónica ao frio, humidade e agentes microbiológicos como fungos, sejam responsáveis pela ocorrência de 100 mil mortes prematuras por ano na Europa.
A investigadora Ana Horta afirma que a mortalidade no inverno em Portugal é mesmo das mais altas da Europa, e alerta que o fenómeno pode ainda "agravar-se com as alterações climáticas".
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*com Miguel Videira e Joana Carvalho Reis
Notícia atualizada às 14h05