"Generalista" ou "significativa"? Como veem os partidos a mensagem de Marcelo
Da esquerda à direita, os partidos reagiram esta tarde à mensagem de ano novo de Marcelo Rebelo de Sousa.
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O eurodeputado do Bloco de Esquerda (BE) José Gusmão considerou "muito significativo" que o Presidente da República tenha recordado que "foi escolha dos portugueses" o PS não ter maioria absoluta, especialmente em altura de debate orçamental.
"Precisamos de saber, e precisamos de decidir, se o crescimento que foi tornado possível pela política de devolução de rendimentos, pela qual o Bloco se bateu, vai ou não ser utilizado para o investimento no desenvolvimento do país, dos seus serviços públicos, de políticas sociais que não deixem ninguém para trás, pelo emprego, pelo salário e por uma resposta determinada e eficaz ao grande combate do nosso tempo, que é o combate às alterações climáticas", disse.
Comentando a mensagem de Ano Novo do Presidente da República, na sede do partido, em Lisboa, José Gusmão atirou que é preciso "decidir se estas escolhas para o desenvolvimento económico e social do país são mais importantes do que algumas décimas de superavit para mostrar em Bruxelas".
"E estas escolhas têm tudo a ver com as opções e com os compromissos que serão feitos em sede de debate orçamental", considerou, vincando que "é, por isso, muito significativo que o Presidente da República, neste momento em que se debate o Orçamento do Estado para 2020, tenha recordado todos os atores envolvidos".
Na ótica do BE, é também significativo que Marcelo Rebelo de Sousa tenha assinalado na comunicação ao país "que foi escolha dos portugueses que o Partido Socialista tivesse maioria, como foi escolha dos portugueses que o Partido Socialista não tivesse maioria absoluta".
Segundo o eurodeputado, o Presidente da República, ao "recordar esse facto neste momento de debate orçamental, convoca naturalmente o Governo e o Partido Socialista para procurar entendimentos e convergências que procurem prosseguir estas prioridades para as quais o Bloco de Esquerda tem alertado, e em torno das quais fará propostas no debate de especialidade".
Aos jornalistas, José Gusmão afirmou que o partido acompanha "a escolha do Presidente da República, da crise social e da crise climática como aspetos centrais da sua mensagem ao país" e mostrou-se disponível "para contribuir para muitas das preocupações que foram levantadas" e que vão inclusivamente ao encontro de propostas que o partido vai "apresentar no debate orçamental durante as próximas semanas".
"A resposta a estas duas emergências, que o BE tem identificado, e em torno das quais tem feito muita da sua proposta política exige fazer uma escolha nos debates que neste momento o país acompanha, nomeadamente o debate sobre o Orçamento do Estado", vincou.
Questionado sobre se o BE está disponível para viabilizar o Orçamento do Estado para 2020, José Gusmão salientou que "o voto do Bloco na generalidade continua em aberto".
"Iremos ter reunião de mesa nacional no próximo dia 4 e aí tomaremos a decisão", apontou o dirigente.
Um discurso "generalista"
Já o CDS-PP considerou o discurso de Ano Novo do Presidente da República "generalista", mas sem "esconder uma realidade" que penaliza os portugueses como o "caos na saúde" ou uma "crise de autoridade" por parte do Governo.
Em Braga, a reagir pela voz do vice-presidente Nuno Melo, o CDS- PP garantiu que tem sido uma oposição "alternativa, forte e eficaz" e que continuará a sê-lo quando "reencontrar a sua liderança", lembrando que o partido vai a votos para eleger o seu presidente em janeiro.
O também eurodeputado fez questão de apontar o dedo ao Governo acusando o executivo de estar a impor a "maior carga fiscal de que há memória" e congratulou-se pelas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa em relação aos ex-combatentes.
"O discurso do senhor Presidente da República foi generalista, que se compreende tendo em conta a quadra festiva, mas que ainda assim não consegue esconder uma realidade que penaliza as famílias", afirmou Nuno Melo.
Segundo um dos número dois de Assunção Cristas, o país vive um "caos na saúde com atrasos nas consultas ou nas cirurgias, um aumento perfeitamente absurdo das dívidas na saúde que antes deste Governo e com outro Governo vinham sendo reduzidas ano após ano".
Nuno Melo apontou ainda o dedo ao executivo em relação à política de impostos, considerando que a atual linha impõe "a maior carga fiscal de que há memória".
"Aqui com uma nota muito particular para uma classe média que trabalha, que se esforça, que quer vencer, mas que contas feitas, pagos todos os impostos, fica com o rendimento disponível de quase nada", salientou.
Outros pontos negativos sobre a ação governativa são, para o CDS-PP a "crise de autoridade do Estado, que passa pelas polícias, muito mal pagas, mal tratadas, e incompreendidas, como por exemplo, pelas escolas e pelos professores".
Do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, os centristas referiram ainda o apelo do Presidente a que haja uma oposição "alternativa e forte" ao Governo que, segundo salientou o chefe de Estado, governa sem maioria absoluta.
"O CDS foi sempre uma oposição alternativa, forte e eficaz e vive um momento muito particular na sua história, com um congresso que se realizará no mês de janeiro e para todos os que percebem que o CDS faz falta e que tem noção da importância do CDS, eu queria deixar uma palavra de esperança. Certo que estou, contados os votos, o CDS reencontrará a sua liderança, continuará esse caminho na oposição como, quando for caso disso, no exercício do poder", garantiu.
O dirigente do CDS-PP salientou ainda as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa dirigidas aos ex-combatentes.
"Uma palavra de congratulação neste discurso em relação aos ex-combatentes, o CDS é o partido que esteve sempre ao lado do ex-combatentes e pediu sempre uma solução par aquilo que obviamente é uma falta de justiça de vida em relação aos que lutaram sem que lhes tenha sido pedido e que hoje, muitas vezes, sofrem muito", finalizou.
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PCP recebe sem entusiasmo
O PCP reagiu sem entusiasmo à mensagem de Ano Novo do Presidente da República, por ser muito idêntica a outras no passado e revelar contradições com as opções seguidas pelo Governo do PS, que criticou.
"Não se diferenciando de outras anteriores, suscita problemas que colocam em contradição o discurso e as opções que vêm sendo seguidas" pelo Executivo, afirmou, na sede nacional do PCP, em Lisboa, Rui Fernandes, num comentário à mensagem presidencial, a partir da ilha do Corvo, Açores.
O membro da comissão política dos comunistas deu os exemplos do combate à pobreza e à exclusão, na justiça ou na segurança dos portugueses, com os quais Rui Fernandes criticou, implicitamente, o Governo minoritário do PS, chefiado por António Costa.
O combate à pobreza e à excussão, afirmou, "não se faz com medidas assistencialistas", mas sim "com o aumento geral dos salários, das pensões e das reformas e um decidido combate à precariedade".
E uma "justiça credível faz-se com investimento em meios humanos e materiais", assim como a "valorização da juventude e jovens famílias" se faz com "políticas reais de apoio", como a rede de creches.
"Não vemos avanços nestas áreas, mas vemos os milhões que continuam a ser injetados na banca", ou a "valorização dos excedentes orçamentais para outros efeitos que não o investimento", acrescentou.
A poucos dias do debate da proposta do Orçamento do Estado para 2020, no Parlamento, Rui Fernandes referiu que os comunistas continuam à espera de respostas às posições do partido.
PS destaca convergência importante com "objetivos estratégicos"
O PS considerou que as prioridades apontadas pelo Presidente da República apresentam "uma convergência muito importante do ponto de vista dos objetivos estratégicos" entre Marcelo Rebelo de Sousa, o Governo "e o próprio primeiro-ministro".
"As prioridades apontadas pelo Presidente da República mostram uma convergência muito importante do ponto de vista dos objetivos estratégicos entre o Presidente da República e o Governo e o próprio primeiro-ministro, que ainda hoje publicou um artigo na imprensa onde essas prioridades também são replicadas", salientou Carlos César.
O presidente do PS falava em Ponta Delgada, São Miguel, numa reação à mensagem de Ano Novo do Presidente da República, a partir da ilha do Corvo, nos Açores, tendo acrescentado que os socialistas partilham com Marcelo Rebelo de Sousa "o apelo" à "estabilidade".
"Partilhamos com o senhor Presidente da República o apelo que ele faz à estabilidade, aos valores do diálogo e da concertação, porque quando não há maiorias absolutas as medidas realizadoras e concretizadoras e os avanços que são necessários dependem sempre da concertação e do diálogo", frisou Carlos César.
O dirigente do PS acrescentou: "E, por isso, entendemos muito bem o apelo do senhor Presidente da República a um Governo mais forte e dialogante e a uma oposição mais forte e mais construtiva".
Para os socialistas, o ano de 2020 inicia-se "com a confirmação de que o relacionamento institucional entre o Presidente da República e os restantes órgãos de soberania continuará a ser um dos fatores de estabilidade", o que "é bom para o Governo e é bom para o país".
Carlos César sublinhou que o PS partilha com o Presidente "um esforço por uma Europa menos adiada e por uma Europa em que os políticos estão mais próximos dos interesses e das aspirações dos cidadãos e das regiões".
"Partilhamos com o Presidente da República a prioridade em 2020, e no conjunto desta legislatura, em áreas decisivas como a saúde, a das alterações climáticas, a da demografia, a da segurança e de outras funções de soberania, a do investimento e a do combate a fatores de desigualdade em que se incluem aqueles que resultam da transição para a sociedade digital", elencou ainda.
O dirigente socialista referiu que o Presidente "fez bem em salientar, por um lado os avanços conseguidos" no país "e, por outro lado, tudo aquilo que ainda há por fazer" e que "naturalmente é muito".
Questionado na sede do PS/Açores, em Ponta Delgada, sobre a viabilização do Orçamento de Estado para 2020, Carlos César lembrou que "o PS e o Governo têm desenvolvido contactos" e acrescentou que "na próxima sexta-feira", ocorrerão "também outras reuniões" envolvendo os partidos com os quais o PS "tem privilegiado o diálogo" na anterior legislatura e na atual.
"Nós consideramos que este é um momento para mostrar ao país que a opção que os eleitores fizeram de reconfirmar o Partido Socialista fortalecido no Governo, mas sem maioria absoluta, é uma opção pela estabilidade, ou seja, pela responsabilidade também dos outros partidos que se comprometeram nesta solução global", vincou.
Na reação do PS à mensagem de Ano Novo do Presidente da República, o presidente do PS registou ainda a escolha de Marcelo Rebelo de Sousa em fazer a passagem de ano no Corvo, a mais pequena ilha dos Açores.
"Essa escolha é importante, porque chama a atenção dos portugueses e dos decisores para as desigualdades de oportunidades, umas delas naturais e territoriais, outras motivadas pela incúria dos poderes públicos ou pela desatenção dos decisores", sustentou Carlos César, apontando a necessidade de "continuar a fazer um esforço para que o Portugal inteiro seja mais igual" e com "melhores oportunidades".
Chega critica mensagem sem algo de "concreto ou concretizável"
O Chega saudou o Presidente da República por ter feito a mensagem de Ano Novo desde "uma das regiões mais esquecidas e abandonadas", mas considerou tratar-se de um discurso sem algo de "concreto ou concretizável".
Numa nota enviada à agência Lusa sobre a mensagem de Ano Novo, o líder e deputado do Chega, André Ventura, saúda Marcelo Rebelo de Sousa por ter tido a "coragem de a emitir a partir de uma das regiões mais esquecidas e abandonadas de Portugal".
Saudou também o chefe de Estado por ter apelado para "um maior investimento em áreas fundamentais como a inovação, a segurança ou a inclusão".
Porém, o presidente do Chega lamenta que "nada nesta mensagem" tenha sido "concreto ou concretizável".
Na ótica de Ventura, "as vítimas das cheias, do mau tempo ou dos incêndios, os profissionais de polícia ou de saúde agredidos - como o caso da médica recentemente agredida em Setúbal - ou os professores humilhados, todas estas classes foram esquecidas por Marcelo" Rebelo de Sousa.
"Na verdade, fez-se um vago apelo a investimento público e coesão, coisas muito pouco palpáveis e que dizem pouco aos portugueses que sofrem", afirma o deputado.
Por isso, o partido refere que "reforçou hoje a sua convicção de que é fundamental que surja uma forte candidatura à direita de Marcelo", alegando que "é preciso um Presidente da República atento às classes profissionais que sofrem, aos idosos esquecidos e às famílias sufocadas em impostos".
Para o deputado único do Chega, o chefe de Estado "preferiu ignorar estes aspetos e falar de conjuntura político-partidária", o que resultou numa "mensagem de Ano Novo alheada das preocupações do povo português".
"Precisávamos de mais", remata a nota.
Iniciativa Liberal critica discurso sem "foco" e sem efeito
Numa nota enviada à TSF, João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, considerou que a mensagem presidencial esteve longe de ser um "bom discurso".
"Na tentativa de ser quase ecuménico, fazendo um esforço para falar de tudo e de todos, deixou a sensação de não ter um verdadeiro foco", refere em comunicado.
Na perspetiva deste partido, a missiva do Presidente tratou-se de "um discurso sobre tudo, com efeito sobre nada".
Aliás, João Cotrim de Figueiredo especifica que, "aos que pensaram que lançaria as bases para a sua reeleição, mostrando maior exigência em relação ao governo mostrou, pelo contrário, que vai, neste último ano do primeiro mandato, continuar a ser complacente com a falta de ambição do governo PS".
O presidente do partido lamentou que o discurso ao país tenha decorrido "sem uma palavra para os muitos portugueses que sentem o País amorfo e sem dinamismo", sem "uma palavra de esperança para os emigrantes que queiram voltar, nem para os muitos que consideram sair porque aqui não encontram oportunidades". E João Cotrim de Figueiredo remata dizendo que "esperava mais deste discurso".