
Já há pouca gente a lembrar-se que o dono do "Gigi" na Quinta do Lago no Algarve se chama Bernardo Reino. A alcunha ficou e hoje está de pedra e cal num dos restaurantes mais emblemáticos da região. Na pequena aldeia da Maçussa, Adolfo Henriques faz o único "chévre" português que vai parar a carta de muitos chefs e restaurantes conhecidos. Há queijos, vinhos e outras histórias para contar. Também no Douro não faltam narrativas. Em Ervedosa, a Toca da Raposa faz todos sonharem com sabores e saberes do território.
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Bernardo Reino ganhou a alcunha de Gigi em miúdo. Nunca mais a perdeu e foi na Quinta do Lago que a trouxe para as bocas do mundo.
Nasceu em Lisboa, passou parte da sua infância na Beira, mais precisamente no Sabugal, e quando se começou a trabalhar foi no ramo dos Seguros que deu os primeiros passos. Paralelamente, abriu uma loja de vinhos do Bairro Alto, mas em 1985, o amigo André Jordan levou-o para a Quinta do Lago no Algarve.
Manteve uma casa em Alcântara, mas mudou-se para Valverde, onde mora atualmente, a dois passos do seu restaurante na praia. Tem centenas de histórias, muitas por contar e outras que nunca chegarão a ser conhecidas, entre realeza, celebridades, políticos, grandes empresários, financeiros e outros personagens que ao longo dos 33 anos passaram naquele espaço.
Deposita na sua fornecedora Beatriz e os seus oito irmãos pescadores grande parte do sucesso que tem com o peixe fresco e marisco que continuam a ser os cartões-de-visita do "Gigi". De calções e polo, juntamente com a sua mulher Leonor, gerem um espaço que fazem questão de manter praticamente inalterado desde que abriram as portas. Ali todos os clientes são iguais e Gigi certifica-se que assim continua a acontecer.
Regresso à terra mãe
Adolfo Henriques chegou a ter um bom emprego em Lisboa depois de ter estudado, inicialmente, no Clenardo, o antigo colégio dos dominicanos na Rua do Salitre em Lisboa. Mas acabou por regressar à terra que o viu nascer e onde foi criado antes de se mudar para estudar em Lisboa: a aldeia da Maçussa.
Pelo meio ainda foi para África durante o serviço militar e foi nos quartéis que conheceu o amigo Adriano Correia de Oliveira, que acompanhou de perto em Lisboa. Mudou-se para a Maçussa e importou coelhos de raça de Inglaterra, mais tarde um rebanho de cabras da Holanda, e o "Chévre" veio depois de ter tirado um curso no Ineti, do qual restou apenas Afonso como produtor do queijo tipo Chévre, a que chama "Queijo da Maçussa.
Vende os seus queijos para muitos chefs e restaurantes conhecidos e avançou agora com os primeiros "Camembert". Além do queijo ainda produz, quase como carolice, compotas, doces feitos com vinho (arrobe), pão de trigo Barbela e Espelta e um vinho (laranjinha) que pode vir a dar muito que falar.
A memória serve-se à mesa
Maria do Rosário e o seu irmão Fernando fazem parte do sonho da sua mãe Maria da Graça quando resolveu a abrir um restaurante que promovesse a cozinha e os saberes regionais e ancestrais do Douro. Desde essa altura que a Toca da Raposa em Ervedosa do Douro tem ganho cada vez mais clientes que não se cansam de voltar, mesmo os estrangeiros que regressam a Portugal.
A ideia resultou porque Maria da Graça toda a vida cozinhou com mestria e saber, as mesmas qualidades que transportou para a sala que abriram ao público em 2011. Entre outros petiscos como a inesquecível alheira, serve-se sopas do "Entulho" e da "Pedra", leitão bísaro à SUS, magret de pato, zestes de laranja e polenta de frutos secos, naco de vitela, puré de batata trufado e boletus em molho de vinho tinto, bacalhau sobre esmagado de grão de bico e couve ou Ensopado de borrego com ervas do monte.
Os vinhos são uma generosa parte das cartas e consegue-se provar marcas exclusivas do restaurante de pequenas produções locais sem esquecer as grandes marcas da região. Aliás, na cave, a garrafeira está disponível para os clientes comprarem, entre outros, os vinhos que se bebem no restaurante. Uma casa de histórias, familiar, com muita alma duriense.