Glockenwise: a música portuguesa "vive numa bolha", mas rebentá-la "pode ser pior"
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Começaram a tocar porque queriam fazer mais do que "papar sono numa terra pequenina" e nunca mais pararam. De Barcelos para os palcos de todo o país, os Glockenwise admitem que, mais de uma década depois de criarem a banda, e nove meses depois de lançarem o primeiro álbum em português, querem continuar a ser "transgressores".
Pensar num artista grande em Portugal que cante em inglês é complicado.
O risco de escrever em português valeu a pena, e o guitarrista Rafael Ferreira confessa, momentos antes de subir ao palco António Variações do festival Bons Sons, que a língua portuguesa pode ter sido o trunfo para o álbum "Plástico" ser bem recebido pelo público e reconhecido pela crítica.
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"O português tem um papel fundamental, porque as pessoas se sentem ouvidas e há essa facilidade na comunicação que acaba por resultar. Se tentarmos pensar num artista grande em Portugal que cante em inglês é complicado", teoriza.
Por outro lado, acrescenta o vocalista e letrista Nuno Rodrigues, "o disco saiu de uma certa estética ligada ao garage rock", o que também contribuiu para o sucesso do álbum.
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Com um disco assumidamente crítico, os Glockenwise defendem que a música portuguesa "vive numa bolha".
"É um país bastante pequeno e as coisas acontecem em poucos sítios. É um bocado complicado fugires de uma bolha quando estás num sítio pequeno", explica Rafael Ferreira.
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O guitarrista não entra, contudo, em fatalismos e considera até "natural" este tipo de nichos: "Acho que não há grande coisa a fazer. Acho que há bolhas em Nova Iorque também; acabam por ser maiores ou mais pequenas consoante a cidade onde se vive, mas os nichos e os polos culturais acabam por ser bolhas, e é difícil não estar dentro dessas coisas."
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Nuno Rodrigues vai mais longe e alerta que o pior que pode acontecer é "achar que se está a rebentar a bolha sem se aperceber que se está dentro de outra".
"Se houver bolhas infinitas quando é que se rebenta a bolha?", pergunta o vocalista.
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Sem a presunção de mudar o panorama musical português, mas com vontade de "fazer música com propósito", Nuno Rodrigues faz uma declaração de intenções: "Nós ambicionamos continuar a fazer canções de que gostemos e que haja pessoas que gostem de as ouvir. Enquanto assim for, nós vamos estar aí nos palcos."
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