Braco Alemão é a raça mais procurada, mas não é a única. Os assaltantes atacam, sobretudo, residências e canis de caçadores, e contactam outros caçadores para lhes vender os cães. De raça pura e treinados, podem atingir milhares de euros. Muitas vezes usam bisturis para trocar os chips dos animais e, quando não os vendem rapidamente, abandonam-nos muito maltratados, enquanto os donos desesperam nas redes sociais.
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A zona Oeste, nos arredores de Lisboa, é uma das mais massacradas: "Torres Vedras, Sobral de Monte Agraço, Mafra...". Gonçalo Santos conhece pessoalmente muitos caçadores que já passaram por isto: "não é novo".
Também caçador, Gonçalo Santos dá provas de conhecer bem o circuito. "Há cães roubados aqui que aparecem em Évora, outros em Arganil, em Sesimbra e até em Espanha. E ao contrário, também. Há cães roubados em Espanha que aparecem nalguns pontos em Portugal".
Explica Gonçalo que a maioria são cães de caça, mas também há quem roube "para arenas na região de Lisboa, para treinar cães de raça Pit Bull". Acrescenta que a motivação é a mesma: "valem muito dinheiro".
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Por amor aos animais não será, porque se repetem relatos de maus tratos, abandono ou ferimentos. "Usam bisturis para lhes retirar o chip. Colocam outro chip nos animais e, assim, mesmo que os donos os encontrem, mesmo que chamem as autoridades, não conseguem provar que aquele é o seu cão", conta Gonçalo Santos, indignado com o que considera ser a "indiferença das autoridades e a permissividade das leis". Será por isto que se recomenda, entre caçadores, que mantenham um álbum fotográfico dos seus cães.
Nas redes sociais, há grupos só para tentar localizar cães de caça furtados. "Foi assim que um companheiro ali de Évora conseguiu localizar o cão no Montijo". O relato é do presidente da Federação Nacional de Caçadores.
Jacinto Amaro vai somando histórias. Esta acabou bem, mas, "quando ele lá chegou com as autoridades, havia mais sete ou oito ou nove... em condições miseráveis, amarrados com arames ou cordas, sem água, a beberem a própria urina".
Também há animais que acabam a deambular perdidos, doentes, muito longe do lugar a que pertencem. "Não lhes interessa roubar os cães em janeiro. Isso seria ter que alimentá-los muito tempo. Não, o que fazem é roubar os cães ali às portas da abertura da época de caça (por esta altura)".
É quando é mais fácil vendê-los. "Há caçadores que acabam por comprá-los. Uns não sabem da sua proveniência. Não sabem, mas deviam desconfiar", admite Jacinto Amaro. "Cães de raça pura que aparecem baratos e bons, deviam desconfiar, mas como são bons para caçar, alguns aproveitam", mesmo sem a documentação que atesta o valor do animal. E enquanto houver quem compre...
GNR investiga
Perante queixas como estas, a GNR revela à TSF que está a investigar a existência do furto de cães para venda no estrangeiro, nomeadamente, em Espanha, com "chips" novos.
Ricardo Alves, o chefe da Divisão de Técnica Ambiental do Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) revela que a guarda tem colaborado com as autoridades espanholas e que o problema também existe em Espanha.
Em Portugal, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, existem cerca de 250 mil caçadores e essa, juntamente com a questão dos "chips", é uma das razões pelas quais não é fácil resgatar animais roubados.
A investigação da GNR, em casos como este, parte, sobretudo, de queixas nas redes sociais, mas esta força de segurança também tem uma linha telefónica que recebe denúncias.
A linha Ambiente e Território é o 808 200 520. Funciona 24 horas por dia e regista queixas de situações que possam ir contra as leis que protegem o ambiente e o ordenamento do território.