Depois de assumir várias divergências com a direção de Francisco Rodrigues dos Santos, deputado defende que "partido tem de fazer prova de vida" nas próximas autárquicas. Número 2 de Cristas em Lisboa, sai da Assembleia da República, mas mantém-se vereador.
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Garantindo à TSF que "nunca esteve nem está agarrado a lugares", João Gonçalves Pereira sai do parlamento a 30 de março, depois de vários desencontros com a atual direção do partido.
"Eu nos últimos meses tenho sido absolutamente claro sobre aquele que é o meu pensamento sobre a fase em que o partido está", explica, considerando que o CDS "está numa fase crítica" e tem de "fazer prova de vida".
Para o deputado, que ocupou o cargo pela terceira vez, depois da saída de Assunção Cristas, o CDS corre mesmo o risco de desaparecer e deve mostrar o pulso que tem já nas próximas eleições autárquicas, ainda que já tenha assinado um acordo de coligação com o PSD.
"Há que ter algum cuidado, com aquilo que pode ser o abraço de urso do PSD", avisa o deputado, salientando que "o CDS tem uma identidade, uma história, tem bons quadros, valores e princípios" e "deve afirmar os seus próprios candidatos".
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A gestão do processo autárquico é uma das divergências públicas assumidas pelo também presidente da distrital de Lisboa do CDS e vereador da autarquia com a direção de Francisco Rodrigues dos Santos. Lugares onde, apesar disso, se pretende manter e assume nessas tarefas empenhamento total. Ainda que a direção entenda que não deve ficar.
"Há decisões internas do partido relativamente às candidaturas. Vamos aguardar essas decisões", adianta, quando questionado sobre o futuro como vereador.
Conte ou não com o apoio da direção do partido para ter lugar na lista de candidatura de Carlos Moedas à Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira insiste que o CDS "tem de fazer justiça aos mais de 21% que conquistou" em 2017 na capital, com Assunção Cristas.
Apoiante de João Almeida no último congresso contra o atual líder do partido, o deputado centrista foi o rosto do CDS na Assembleia da República em temas importantes como a TAP, o novo aeroporto de Lisboa e a polémica do 5G. Sem admitir eventuais condicionamentos da direção nessas tarefas também não os rejeita. "Eu falarei no futuro", promete.
"Penso que consegui cumprir em termos de desafios aquilo que era a presença do CDS nas áreas que tive de trabalhar", defende, acrescentando que no exercício do mandato "tentou dar o melhor que sabia" cumprindo "um serviço público".
João Gonçalves Pereira tomou a decisão de abandonar o parlamento em dezembro passado, mas confessa que "aprendeu muito". E decidiu aceitar "outros desafios".
"Sou uma pessoa que gosta de desafios. Este ano e meio de mandato parlamentar foi um deles e penso, com sinceridade, que cumpri", refere, agradecendo o apoio de Telmo Correia e Cecília Meireles, enquanto líderes da bancada com quem trabalhou nesta legislatura.
Para já, além de manter ligação ao mundo empresarial, Gonçalves Pereira está a terminar um livro sobre o impacto do 5G na economia.
Militante do CDS desde os 18 anos, o ainda deputado diz não temer que esta batida com a porta o limite, quer como vereador, quer na distrital lisboeta, garantindo: "eu estou, estarei e ficarei no CDS".
"Mesmo esta saída constitui um ato de liberdade, que me permite continuar a exprimir o meu entendimento sobre o estado e o futuro do partido", reconhece. Sai, sem jurar que não possa, um dia, regressar ao parlamento.
"Não vou dizer isso. Eu considero esta saída do parlamento como algo que até pode ser transitório. Pode ser um até já, um até breve...", assume, sem se comprometer com certezas. "Não penso muito nisso".